sexta-feira, 2 de maio de 2008

INTRODUÇÃO - EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
COM
A EXPLICAÇÃO DAS MÁXIMAS MORAIS DO CRISTO EM
CONCORDÂNCIA COM O ESPIRITISMO E SUAS APLICAÇÕES
ÀS DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA
POR
ALLAN KARDEC
Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a
frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
DEPARTAMENTO EDITORIAL
Rua Souza Valente, 17
20941-040 - Rio - RJ - Brasil
ISBN - 85-7328-046-8
112ª edição
Do 2.706º ao 2.755º milheiro
Título do original francês:
L'Évangile selon le Spiritisme
(Paris, abril- 1864)
Tradução de GUILLON RIBEIRO
3a. edição francesa
revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866
Capa de CECCONI
B.N. 6.832
007-AA; 000.05-O; 5/1996
Copyright 1944 by
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
(Casa-Máter do Espiritismo)
Av. L-2 Norte - Q. 603- Conjunto F
70830-030 - Brasília - DF - Brasil
Composição, fotolitos e impressão offset das
Oficinas do Departamento Gráfico da FEB
Rua Souza Valente, 17
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Pedidos de livros à FEB - Departamento Editorial, via Correio ou, em grandes
encomendas, via rodoviário: por carta, telefone (021) 589-6020, ou FAX (021) 589-6838.
7
ÍNDICE
Índice de referências bíblicas 15
Prefácio 23
Introdução 25
I - Objetivo desta obra. II - Autoridade da Doutrina Espírita. Controle universal do ensino dos
Espíritos. III - Notícias históricas. IV - Sócrates e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo.
CAPÍTULO I - NÃO VIM DESTRUIR A LEI 53
As três revelações: Moisés, Cristo, Espiritismo: 1 a 7. - Aliança da Ciência e da Religião: 8. -
Instruções dos Espíritos: A nova era: 9 a 11.
CAPÍTULO II - MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO 63
A vida futura: 1 a 3. - A realeza de Jesus: 4. - O ponto de vista: 5 a 7. - Instruções dos
Espíritos: Uma realeza terrestre: 8.
CAPÍTULO III - HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI 71
Diferentes estados da alma na erraticidade: 1 e 2. - Diferentes categorias de mundos
habitados: 3 a 5. - Destinação
8
ÍNDICE
da Terra. Causas das misérias humanas: 6 e 7. - Instruções dos Espíritos: Mundos inferiores e
mundos superiores: 8 a 12. - Mundos de expiações e de provas: 13 a 15. - Mundos regeneradores: 16
a 18. - Progressão dos mundos: 19.
CAPÍTULO IV - NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO
NASCER DE NOVO
83
Ressurreição e reencarnação: 1 a 17. - A reencarnação fortalece os laços de família, ao passo
que a unicidade da existência os rompe: 18 a 23. - Instruções dos Espíritos: Limites da encarnação:
24. - Necessidade da encarnação: 25 e 26.
CAPÍTULO V - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS 97
Justiça das aflições: 1 a 3. - Causas atuais das aflições: 4 e 5. - Causas anteriores das aflições:
6 a 10. - Esquecimento do passado: 11. - Motivos de resignação: 12 e 13. - O suicídio e a loucura: 14
a 17. - Instruções dos Espíritos: Bem e mal sofrer: 18. - O mal e o remédio: 19. - A felicidade não é
deste mundo: 20. - Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras: 21. - Se fosse um homem de bem,
teria morrido: 22. - Os tormentos voluntários: 23. - A desgraça real: 24. - A melancolia: 25. - Provas
voluntárias. O verdadeiro cilício: 26. - Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?: 27. - Será lícito
abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?: 28. - Sacrifício da própria vida: 29 e
30. - Proveito dos sofrimentos para outrem: 31.
CAPÍTULO VI - O CRISTO CONSOLADOR 127
O jugo leve: 1 e 2. - Consolador prometido: 3 e 4. - Instruções dos Espíritos: Advento do
Espírito de Verdade: 5 a 8.
9
ÍNDICE
CAPÍTULO VII - BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO 133
O que se deve entender por pobres de espírito: 1 e 2. - Aquele que se eleva será rebaixado: 3
a 6. - Mistérios ocultos aos doutos e aos prudentes: 7 a 10. - Instruções dos Espíritos: O orgulho e a
humildade: 11 e 12. - Missão do homem inteligente na Terra: 13.
CAPÍTULO VIII - BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO 147
Simplicidade e pureza de coração: 1 a 4. - Pecado por pensamentos. Adultério: 5 a 7. -
Verdadeira pureza. Mãos não lavadas: 8 a 10. - Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo,
cortai-a: 11 a 17. - Instruções dos Espíritos: Deixai que venham a mim as criancinhas: 18 e 19. -
Bem-aventurados os que têm fechado os olhos: 20 e 21.
CAPÍTULO IX - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS 161
Injúrias e violências: 1 a 5. - Instruções dos Espíritos: A afabilidade e a doçura: 6. - A
paciência: 7. - Obediência e resignação: 8. - A cólera: 9 e 10.
CAPÍTULO X - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS 169
Perdoai, para que Deus vos perdoe: 1 a 4. - Reconciliação com os adversários: 5 e 6. - O
sacrifício mais agradável a Deus: 7 e 8. - O argueiro e a trave no olho: 9 e 10. - Não julgueis, para não
serdes julgados. Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado: 11 a 13. - Instruções dos
Espíritos: Perdão das ofensas: 14 e 15. - A indulgência: 16 a 18. - É permitido repreender os outros,
notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?: 19 a 21.
10
ÍNDICE
CAPÍTULO XI - AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO 183
O mandamento maior. Fazermos aos outros o que queiramos que os outros nos façam.
Parábola dos credores e dos devedores: 1 a 4. - Dai a César o que é de César: 5 a 7. - Instruções dos
Espíritos: A lei de amor: 8 a 10. - O egoísmo: 11 e 12. - A fé e a caridade: 13. - Caridade para com os
criminosos: 14. - Deve-se expor a vida por um malfeitor?: 15.
CAPÍTULO XII - AMAI OS VOSSOS INIMIGOS 197
Retribuir o mal com o bem: 1 a 4. - Os inimigos desencarnados: 5 e 6. - Se alguém vos bater
na face direita, apresentai-lhe também a outra: 7 e 8. - Instruções dos Espíritos: A vingança: 9. - O
ódio: 10. - O duelo: 11 a 16.
CAPÍTULO XIII - NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A
VOSSA MÃO DIREITA
211
Fazer o bem sem ostentação: 1 a 3. - Os infortúnios ocultos: 4. - O óbolo da viúva: 5 e 6. -
Convidar os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição: 7 e 8. - Instruções dos Espíritos: A
caridade material e a caridade moral: 9 e 10. - A beneficência: 11 a 16. - A piedade: 17. Os órfãos:
18. - Benefícios pagos com a ingratidão: 19. - Beneficência exclusiva: 20.
CAPÍTULO XIV - HONRAI A VOSSO PAI E A VOSSA MÃE 233
Piedade filial: 1 a 4. - Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?: 5 a 7. - A parentela
corporal e a parentela espiritual: 8. - Instruções dos Espíritos: A ingratidão dos filhos e os laços de
família: 9.
CAPÍTULO XV - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO 245
O de que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano: 1 a 3. - O
mandamento maior: 4 e
11
ÍNDICE
5. - Necessidade da caridade, segundo S.Paulo: 6 e 7. - Fora da Igreja não há salvação. Fora da
verdade não há salvação: 8 e 9. - Instruções dos Espíritos: Fora da caridade não há salvação: 10.
CAPÍTULO XVI - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON 253
Salvação dos ricos: 1 e 2. - Preservar-se da avareza: 3. - Jesus em casa de Zaqueu: 4. -
Parábola do mau rico 5. - Parábola dos talentos: 6. - Utilidade providencial da riqueza. Provas da
riqueza e da miséria: 7. - Desigualdade das riquezas: 8. - Instruções dos Espíritos: A verdadeira
propriedade: 9 e 10. - Emprego da riqueza: 11 a 13. - Desprendimento dos bens terrenos: 14. -
Transmissão da riqueza: 15.
CAPÍTULO XVII - SEDE PERFEITOS 271
Caracteres da perfeição: 1 e 2. - O homem de bem: 3. - Os bons espíritas: 4. - Parábola do
semeador: 5 e 6. - Instruções dos Espíritos: O dever: 7. - A virtude: 8. - Os superiores e os inferiores:
9. - O homem no mundo: 10. - Cuidar do corpo e do espírito: 11.
CAPÍTULO XVIII - MUITOS OS CHAMADOS, POUCOS OS ESCOLHIDOS 287
Parábola do festim de bodas: 1 e 2. - A porta estreita: 3 a 5. - Nem todos os que dizem:
Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus: 6 a 9. - Muito se pedirá àquele que muito recebeu: 10 a
12. - Instruções dos Espíritos: Dar-se-á àquele que tem: 13 a 15. - Pelas suas obras é que se
reconhece o cristão: 16.
CAPÍTULO XIX - A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS 299
Poder da fé: 1 a 5. - A fé religiosa. Condição da fé inabalável: 6 e 7. - Parábola da figueira
que secou: 8 a 10. - Instruções dos Espíritos: A fé: mãe da esperança e da caridade: 11. - A fé
humana e a divina: 12.
12
ÍNDICE
CAPÍTULO XX - OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA 309
Instruções dos Espíritos: Os últimos serão os primeiros: 1 a 3. - Missão dos espíritas: 4. - Os
obreiros do Senhor: 5.
CAPÍTULO XXI - HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS 317
Conhece-se a árvore pelo fruto: 1 a 3. - Missão dos profetas: 4. Prodígios dos falsos profetas:
5. - Não creais em todos os Espíritos: 6 e 7. - Instruções dos Espíritos: Os falsos profetas: 8. -
Caracteres do verdadeiro profeta: 9. - Os falsos profetas da erraticidade: 10. - Jeremias e os falsos
profetas: 11.
CAPÍTULO XXII - NÃO SEPAREIS O QUE DEUS JUNTOU 329
Indissolubilidade do casamento: 1 a 4. - O divórcio: 5.
CAPÍTULO XXIII - ESTRANHA MORAL 333
Odiar os pais: 1 a 3. - Abandonar pai, mãe e filhos: 4 a 6. - Deixar aos mortos o cuidado de
enterrar seus mortos: 7 e 8. - Não vim trazer a paz, mas, a divisão: 9 a 18.
CAPÍTULO XXIV - NÃO PONHAIS A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE 345
Candeia sob o alqueire. Porque fala Jesus por parábolas: 1 a 7. - Não vades ter com os
gentios: 8 a 10. - Não são os que gozam saúde que precisam de médico: 11 e 12. - Coragem da fé: 13
a 16. - Carregar sua cruz. Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á: 17 a 19.
CAPÍTULO XXV - BUSCAI E ACHAREIS 355
Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará: 1 a 5. - Observai os pássaros do céu: 6 a 8. - Não
vos afadigueis pela posse do ouro: 9 a 11.
13
ÍNDICE
CAPÍTULO XXVI - DAI GRATUITAMENTE O QUE GRATUITAMENTE
RECEBESTES
363
Dom de curar: 1 e 2. - Preces pagas: 3 e 4. - Mercadores expulsos do templo: 5 e 6. -
Mediunidade gratuita: 7 a 10.
CAPÍTULO XXVII - PEDI E OBTEREIS 369
Qualidades da prece: 1 a 4. - Eficácia da prece: 5 a 8. - Ação da prece. Transmissão do
pensamento: 9 a 15. - Preces inteligíveis: 16 e 17. - Da prece pelos mortos e pelos Espíritos
sofredores: 18 a 21. - Instruções dos Espíritos: Maneira de orar: 22. - Felicidade que a prece
proporciona: 23.
CAPÍTULO XXVIII - COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS 385
Preâmbulo: 1.
I - PRECES GERAIS 387
Oração dominical: 2 e 3. - Reuniões espíritas: 4 a 7. - Para os médiuns: 8 a 10.
II - PRECES POR AQUELE MESMO QUE ORA 398
Aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores: 11 a 14. - Para afastar os maus Espíritos: 15 a
17. - Para pedir a corrigenda de um defeito: 18 e 19. - Para pedir a força de resistir a uma tentação: 20
e 21. - Ação de graças pela vitória alcançada sobre uma tentação: 22 e 23. - Para pedir um conselho:
24 e 25. - Nas aflições da vida: 26 e 27. - Ação de graças por um favor obtido: 28 e 29. - Ato de
submissão e de resignação: 30 a 33. - Num perigo iminente: 34 e 35. - Ação de graças por haver
escapado a um perigo: 36 e 37. - À hora de dormir: 38 e 39. - Prevendo próxima a morte: 40 e 41.
14
ÍNDICE
III - PRECES POR OUTREM 411
Por alguém que esteja em aflição: 42 e 43. - Ação de graças por um benefício concedido a
outrem: 44 e 45. - Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal: 46 e 47. - Ação de graças pelo
bem concedido aos nossos inimigos: 48 e 49. - Pelos inimigos do Espiritismo: 50 a 52. - Por uma
criança que acaba de nascer: 53 a 56. - Por um agonizante: 57 e 58.
IV - PRECES PELOS QUE JÁ NÃO SÃO DA TERRA 419
Por alguém que acaba de morrer: 59 a 61. - Pelas pessoas a quem tivemos afeição: 62 e 63. -
Pelas almas sofredoras que pedem preces: 64 a 66. - Por um inimigo que morreu: 67 e 68. - Por um
criminoso: 69 e 70. - Por um suicida: 71 e 72. - Pelos Espíritos penitentes: 73 e 74. - Pelos Espíritos
endurecidos: 75 e 76.
V - PRECES PELOS DOENTES E PELOS OBSIDIADOS 430
Pelos doentes: 77 a 80. - Pelos obsidiados: 81 a 84.
15
ÍNDICE DE REFERÊNCIAS BÍBLICAS
MATEUS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
3 10 *317 5 38 a 42 201
5 3 133 5 43 a 47 197
5 4 161 5 44 271
5 5 97 5 46 a 48 271
5 6 97 6 1 a 4 211
5 6 414 6 5 a 8 369
5 7 169 6 9 a 13 387
5 8 147 6 14 e 15 169
5 9 161 6 19 a 21 357
5 10 97 6 24 *253
5 10 a 12 414 6 25 a 34 357
5 15 345 7 1 e 2 173
5 17 e 18 53 7 3 a 5 172
5 19 292 7 7 a 11 355
5 20 197 7 12 183
5 21 e 22 161 7 13 e 14 290
5 23 e 24 172 7 15 a 20 317
5 25 e 26 170 7 21 a 23 291
5 27 e 28 149 7 24 a 27 292
5 29 e 30 152 8 1 a 4 211
5 31 e 32 *329 8 21 e 22 *337
____________
(*) Os asteriscos indicam que tais versículos têm relação com o assunto tratado pelo Autor, se
bem que não citados na obra.
16
MATEUS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
9 10 a 12 350 18 21 e 22 169
10 5 a 7 349 18 23 a 35 184
10 8 363 19 3 a 9 329
10 9 a 15 360 19 13 a 15 *147
10 26 *345 19 16 a 24 253
10 28 414 19 18 e 19 233
10 32 e 33 352 19 29 335
10 34 a 36 338 19 30 *309
10 37 333 20 1 a 16 309
10 38 e 39 353 20 20 a 28 135
11 12 a 15 87 21 12 e 13 365
11 25 137 21 18 a 21 *303
11 28 a 30 127 21 21 *299
12 33 *317 21 22 *370
12 46 a 50 236 22 1 a 14 287
13 1 a 9 276 22 15 a 22 185
13 10 a 14 295 22 34 a 40 183
13 10 a 15 345 22 34 a 40 248
13 18 a 23 276 23 11 e 12 *135
14 1 e 2 *83 23 14 363
15 1 a 20 150 23 25 a 28 *150
16 13 a 17 83 23 25 a 28 400
16 24 a 26 *353 24 4 e 5 318
17 10 a 13 84 24 11 a 13 318
17 14 a 20 299 24 23 e 24 318
18 1 a 5 135 25 29 *295
18 6 a 11 152 25 14 a 30 256
18 15 169 25 31 a 46 245
18 20 394 27 11 *63
17
MARCOS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
1 40 a 44 *211 9 42 a 47 *153
2 15 a 17 *350 10 2 a 12 *329
3 20 e 21 236 10 13 e 16 147
3 31 a 35 236 10 17 a 25 253
4 1 a 9 *276 10 19 233
4 10 a 12 *345 10 29 e 30 *335
4 11 *345 10 31 *309
4 13 a 20 *276 10 35 a 45 *135
4 21 e 22 *345 11 12 a 14 303
4 24 *173 11 15 a 18 365
4 24 e 25 295 11 20 23 303
4 25 *345 11 24 370
6 8 a 11 *360 11 25 e 26 369
6 14 a 16 83 12 13 a 17 185
7 1 a 23 *150 12 28 a 31 *183
8 27 a 30 83 12 28 a 31 *248
8 34 a 36 353 12 38 a 40 363
8 38 149 12 41 a 44 215
8 38 *352 13 5 e 6 318
9 11 a 13 84 13 21 e 22 318
9 35 a 37 *135 15 2 *63
18
LUCAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
5 12 a 14 *211 9 23 a 25 353
5 29 a 31 *350 9 26 352
6 20 *133 9 37 a 43 *299
6 20 e 21 97 9 46 a 48 *135
6 22 e 23 353 9 59 e 60 337
6 22 e 23 *414 9 61 e 62 336
6 24 e 25 97 10 21 *137
6 27 e 28 *197 10 25 a 27 *183
6 27 e 28 *271 10 25 a 27 *248
6 29 e 30 *201 10 25 a 37 246
6 31 183 11 2 a 4 *388
6 32 a 36 197 11 9 a 13 *355
6 32 a 36 *271 11 33 *345
6 37 e 38 *173 11 37 a 40 151
6 41 e 42 *173 11 39 *400
6 43 a 45 317 12 4 e 5 *414
6 46 a 49 292 12 8 e 9 *352
8 4 a 8 *276 12 13 a 21 254
8 10 e 18 *345 12 22 a 34 *357
8 11 a 15 *276 12 47 e 48 293
8 16 e 17 345 12 49 a 53 338
8 18 *295 12 58 e 59 *171
8 19 a 21 *236 13 23 a 30 290
9 3 a 5 *360 13 30 *309
9 7 a 9 83 14 1 135
9 18 a 20 *83 14 7 a 11 135
19
LUCAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
14 12 a 15 217 18 9 a 14 370
14 16 a 24 *287 18 15 a 17 *147
14 25 a 27 333 18 18 a 25 254
14 27 *353 18 20 233
14 33 333 18 28 a 30 335
16 13 253 19 1a 10 254
16 17 *53 19 11 a 27 *256
16 18 *329 19 26 *295
16 19 a 31 255 19 45 e 46 *365
17 1 e 2 *152 20 20 a 26 *185
17 3 e 4 *169 20 45 e 47 363
17 6 *299 21 1 a 4 215
17 23 *318 22 24 a 27 *135
17 33 *353 23 3 *63
JOÃO
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
2 13 a 16 *365 14 1 a 3 71
3 1 a 12 84 14 13 *370
7 5 237 14 15 a 17 128
8 3 a 11 174 14 26 128
9 39 a 41 293 18 33 63
12 25 e 26 353 18 36 e 37 63
12 40 *345
20
ATOS E EPÍSTOLAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
At. 2 17 e 18 396 I Cor. 14 16 e 17 377
At. 20 29 *317 Efés. 6 2 e 3 *233
At. 28 26 e 27 *345 II Tim. 2 12 *358
Rom. 2 1 *173 I Ped. 3 14 *414
Rom. 13 7 *185 I Ped. 4 8 *249
I Cor. 13 1 a 7 249 I Ped. 4 14 *414
I Cor. 13 13 249 I João 3 22 *370
I Cor.14 11 e 14 377 I João 4 1 320
VELHO TESTAMENTO
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
Êxo. 20 2 a 8 53 Isa. 26 19 88
Êxo. 20 12 233 Jer. 14 14 *327
Êxo. 20 12 a 17 54 Jer. 23 16 a 18 327
Deu. 5 6 a 12 53 Jer. 23 21 327
Deu. 5 16 *233 Jer. 23 25 e 26 327
Deu. 5 16 a 21 54 Jer. 23 33 327
Job 14 10 e 14 *88 Joel 2 28 e 29 396
21
NOTA DA EDITORA
A nossa tradução da obra O Evangelho segundo o Espiritismo foi feita da terceira edição
francesa, ou seja, daquela que foi revista, corrigida e modificada por Allan Kardec (Revue
Spirite, ano de 1865, pág. 356).
Encarregou-se dessa tradução o saudoso presidente da Federação Espírita Brasileira - Dr.
Guillon Ribeiro, engenheiro civil, poliglota e vernaculista.
Ruy Barbosa, em seu discurso pronunciado na sessão de 14 de outubro de 1903 (Anais do
Senado Federal, vol. II, pág., 717), em se referindo ao seu trabalho de revisão do Projeto do
Código Civil, trabalho monumental que resultou na Réplica, e que lhe imortalizou o nome
como filólogo e purista da língua, disse:
“Devo, entretanto, Sr. Presidente, desempenhar-me de um dever de consciência -
registrar e agradecer da tribuna do Senado a colaboração preciosa do Sr. Dr. Guillon
Ribeiro, que me acompanhou nesse trabalho com a maior inteligência, não limitando os
seus serviços a parte material do comum dos revisores, mas, muitas vezes, suprindo até a
desatenções e negligências minhas.”
Como vemos, Guillon Ribeiro recebeu, aos vinte e oito anos de idade, o maior prêmio, o
maior elogio a que poderia aspirar um escritor, e a Federação Espírita Brasileira, vinte anos
depois, consagrou-lhe o nome, aprovando unanimemente as suas impecáveis traduções de
Kardec.
Jornalista emérito, Guillon Ribeiro foi redator do Jornal do Commercio e colaborador dos
maiores jornais da época. Exerceu, durante anos, o cargo de Diretor-Geral da Secretaria do
Senado e foi Diretor da Federação Espírita Brasileira, no decurso de 26 anos consecutivos,
tendo traduzido, ainda, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese e Obras
Póstumas, todos de Allan Kardec.
22
EXPLICAÇÃO
Como é do domínio público, Kardec, ao imprimir a terceira edição do seu livro - O
Evangelho segundo o Espiritismo -, por ordem dos Espíritos reformou completamente as
edições anteriores, suprimindo inúmeros trechos, acrescentando outros, alterando a redação
de muitos e a numeração de vários parágrafos, tendo, anteriormente, modificado o próprio
título da obra.
A 3ª edição francesa ficou, pois, sendo a definitiva e, por isso mesmo, a Federação
Espírita Brasileira, obediente às instruções que os Espíritos deram a Kardec, e por este
aceitas, fez a presente tradução da referida 3ª edição francesa, sobre a qual Kardec escreveu,
em "Revue Spirite" de novembro de 1865, o seguinte:
Esta edição foi completamente refundida. Além de algumas adições, as principais
modificações consistem numa classificação mais metódica, mais clara e mais cômoda das
matérias, tornando a obra de mais fácil leitura e facilitando igualmente as consultas.
A EDITORA (FEB)
23
PREFÁCIO
Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se
movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da
Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos
cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser
restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e
glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se
lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira,
fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um
extremo a outro do Universo.
Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos
outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor!
Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.
O ESPÍRITO DE VERDADE
_________
NOTA - A instrução acima, transmitida por via mediúnica, resume a um tempo o verdadeiro
caráter do Espiritismo e a finalidade desta obra; por isso foi colocada aqui como prefácio.
24
25
INTRODUÇÃO
I - OBJETIVO DESTA OBRA
Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns
da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja
para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de
controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código
divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se,
estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto
jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se
originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado
sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à
parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo. Para os homens, em particular,
constitui aquele código uma regra de proceder que abrange todas as circunstancias da vida
privada e da vida pública, o principio básico de todas, as relações sociais que se fundam na
mais rigorosa justiça. E, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade
26
INTRODUÇÃO
vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a
que será objeto exclusivo desta obra.
Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a
necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou
firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a
fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as conseqüências. A
razão está, por muito, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o
maior número dos seus leitores, é ininteligível. A forma alegórica e o intencional misticismo
da linguagem fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como
lêem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos os preceitos
morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então,
apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais.
É certo que tratados já se hão escrito de moral evangélica; mas, o arranjo em moderno
estilo literário lhe tira a primitiva simplicidade que, ao mesmo tempo, lhe constitui o encanto
e a autenticidade. Outro tanto cabe dizer-se das máximas destacadas e reduzidas à sua mais
simples expressão proverbial. Desde logo, já não passam de aforismos, privados de uma parte
do seu valor e interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias em que foram
enunciadas.
Para obviar a esses inconvenientes, reunimos, nesta obra, os artigos que podem compor,
a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto. Nas citações,
conservamos o que é útil ao desenvolvimento da idéia, pondo de lado unicamente o que se
não prende ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução de Sacy, assim
como a divisão em versículos. Em vez, porém, de nos atermos a uma ordem cronológica
impossível e sem vantagem real para o caso, grupamos e classificamos metodicamente as
máximas, segundo as respectivas naturezas, de modo que decorram umas das
27
INTRODUÇÃO
outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos
versículos permite se recorra à classificação vulgar, em sendo oportuno.
Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, apenas teria secundária
utilidade. O essencial era pô-lo ao alcance de todos, mediante a explicação das passagens
obscuras e o desdobramento de todas as conseqüências, tendo em vista a aplicação dos
ensinos a todas as condições da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos bons
Espíritos que nos assistem.
Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral só são
ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que faculte se lhes apreenda
o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo, como já o puderam
reconhecer os que o têm estudado seriamente e como todos, mais tarde, ainda melhor o
reconhecerão. O Espiritismo se nos depara por toda a parte na antigüidade e nas diferentes
épocas da Humanidade. Por toda a parte se lhe descobrem os vestígios: nos escritos, nas
crenças e nos monumentos. Essa a razão por que, ao mesmo tempo que rasga horizontes
novos para o futuro, projeta luz não menos viva sobre os mistérios do passado.
Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruções escolhidas,
dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por diferentes médiuns. Se elas fossem
tiradas de uma fonte única, houveram talvez sofrido uma influência pessoal ou a do meio,
enquanto a diversidade de origens prova que os Espíritos dão indistintamente seus ensinos e
que ninguém a esse respeito goza de qualquer privilégio. (1)
____________
(1) Houvéramos, sem dúvida, podido apresentar, sobre cada assunto, maior número de
comunicações obtidas numa porção de outras cidades e centros, além das que citamos. Tivemos, porém,
de evitar a monotonia das repetições inúteis e limitar a nossa escolha às que, tanto pelo fundo quanto pela
forma, se enquadravam melhor no plano desta obra, reservando para publicações ulteriores as que não
puderam caber aqui.
Quanto aos médiuns, abstivemo-nos de nomeá-los. Na maioria dos casos, não os designamos a pedido
deles próprios e, assim sendo, não convinha
28
INTRODUÇÃO
Esta obra é para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios de conformar com a
moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas oferece aplicações que lhes concernem
de modo especial. Graças às relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os
homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a todas as
nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá e se verá incessantemente
compelido a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais. As instruções que
promanam dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens
e convidá-los à prática do Evangelho.
II - AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA
Controle universal do ensino dos Espíritos
Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não ofereceria por penhor
senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora, ninguém, neste mundo, poderia
alimentar fundadamente a pretensão de possuir, com exclusividade, a verdade absoluta. Se os
Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a
origem, porquanto fora mister acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles o
ensino. Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia ele convencer as
pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar todo o
mundo.
______________
fazer exceções. Ao demais, os nomes dos médiuns nenhum valor teriam acrescentado à obra dos Espíritos.
Mencioná-los mais não fora, então, do que satisfazer ao amor próprio, coisa a que os médiuns
verdadeiramente sérios nenhuma importância ligam. Compreendem eles, que, por ser meramente passivo
o papel que lhes toca, o valor das comunicações em nada lhes exalça o mérito pessoal; e que seria pueril
envaidecerem-se de um trabalho de inteligência ao qual é apenas mecânico o concurso que prestam.
29
INTRODUÇÃO
Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais
autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se por
toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode
ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas
vêem e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. Ao
demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as
coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. Ora,
queimassem-se todos os livros e a fonte da doutrina não deixaria de conservar-se inexaurível,
pela razão mesma de não estar na Terra, de surgir em todos os lugares e de poderem todos
dessedentar-se nela. Faltem os homens para difundi-la: haverá sempre os Espíritos, cuja
atuação a todos atinge e aos quais ninguém pode atingir.
São, pois, os próprios Espíritos que fazem a propagação, com o auxílio dos inúmeros
médiuns que, também eles, os Espíritos, vão suscitando de todos os lados. Se tivesse havido
unicamente um intérprete, por mais favorecido que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido.
Qualquer que fosse a classe a que pertencesse, tal intérprete houvera sido objeto das
prevenções de muita gente e nem todas as nações o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos
se comunicam em todos os pontos da Terra, a todos os povos, a todas as seitas, a todos os
partidos, e todos os aceitam. O Espiritismo não tem nacionalidade e não faz parte de nenhum
culto existente; nenhuma classe social o impõe, visto que qualquer pessoa pode receber
instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Cumpre seja assim, para que ele possa
conduzir todos os homens à fraternidade. Se não se mantivesse em terreno neutro, alimentaria
as dissensões, em vez de apaziguá-las.
Nessa universalidade do ensino dos Espíritos reside a força do Espiritismo e, também, a
causa de sua tão rápida propagação. Enquanto a palavra de um só homem, mesmo com o
concurso da imprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos, milhares de
vozes se
30
INTRODUÇÃO
fazem ouvir simultaneamente em todos os recantos do planeta, proclamando os mesmos
princípios e transmitindo-os aos mais ignorantes, como aos mais doutos, a fim de que não
haja deserdados. É uma vantagem de que não gozara ainda nenhuma das doutrinas surgidas
até hoje. Se o Espiritismo, portanto, é uma verdade, não teme o malquerer dos homens, nem
as revoluções morais, nem as subversões físicas do globo, porque nada disso pode atingir os
Espíritos.
Não é essa, porém, a única vantagem que lhe decorre da sua excepcional posição. Ela lhe
faculta inatacável garantia contra todos os cismas que pudessem provir, seja da ambição de
alguns, seja das contradições de certos Espíritos. Tais contradições, não há negar, são um
escolho; mas que traz consigo o remédio, ao lado do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se
acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é
dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração;
que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre eles, como entre
estes, há presunçosos e sofômanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam
por verdades as suas idéias; enfim, que só os Espíritos da categoria mais elevada, os que já
estão completamente desmaterializados, se encontram despidos das idéias e preconceitos
terrenos; mas, também é sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam em tomar
nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas utopias. Daí resulta que, com relação a
tudo o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um
possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser
consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e
propagá-las levianamente como verdades absolutas.
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se
submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta
31
INTRODUÇÃO
contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já
adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como
assinatura. Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de luzes
de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias opiniões como juizes
únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer aqueles que não depositam confiança
absoluta em si mesmos? Buscar o parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta. De tal
modo é que se deve proceder em face do que digam os Espíritos, que são os primeiros a nos
fornecer os meios de consegui-lo.
A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no
entanto, que ela se dê em determinadas condições. A mais fraca de todas ocorre quando um
médium, a sós, interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que, se
ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe
pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haverá
na conformidade que apresente o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo
centro, porque podem estar todos sob a mesma influência.
Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre
as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares.
Vê-se bem que não se trata aqui das comunicações referentes a interesses secundários,
mas do que respeita aos princípios mesmos da doutrina. Prova a experiência que, quando um
principio novo tem de ser enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao
mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto ao fundo.
Se, portanto, aprouver a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado
unicamente nas suas idéias e com exclusão da verdade, pode ter-se a certeza de que tal
sistema conservar-se-á circunscrito e cairá, diante das instruções dadas de todas as partes,
conforme os múltiplos
32
INTRODUÇÃO
exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade que pôs por terra todos os sistemas
parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os
fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e
o mundo invisível.
Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um principio da doutrina. Não é
porque esteja de acordo com as nossas idéias que o temos por verdadeiro. Não nos
arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: "Crede em
tal coisa, porque somos nós que vo-lo dizemos." A nossa opinião não passa, aos nossos
próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos
considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque um principio nos
foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas porque recebeu a sanção da
concordância.
Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil centros
espiritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições
de observar sobre que principio se estabelece a concordância. Essa observação é que nos tem
guiado até hoje e é a que nos guiará em novos campos que o Espiritismo terá de explorar.
Porque, estudando atentamente as comunicações vindas tanto da França como do estrangeiro,
reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que ele tende a entrar por um novo
caminho e que lhe chegou o momento de dar um passo para diante. Essas revelações, feitas
muitas vezes com palavras veladas, hão freqüentemente passado despercebidas a muitos dos
que as obtiveram. Outros julgaram-se os únicos a possui-las. Tomadas insuladamente, elas,
para nós, nenhum valor teriam; somente a coincidência lhes imprime gravidade. Depois,
chegado o momento de serem entregues à publicidade, cada um se lembrará de haver obtido
instruções no mesmo sentido. Esse movimento geral, que observamos e estudamos, com a
assistência dos nossos guias espirituais, é que nos auxilia a julgar da oportunidade de
fazermos ou não alguma coisa.
33
INTRODUÇÃO
Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e
anulará todas as teorias contraditórias. Aí é que, no porvir, se encontrará o critério da
verdade. O que deu lugar ao êxito da doutrina exposta em O Livro dos Espíritos e em O Livro
dos Médiuns foi que em toda a parte todos receberam diretamente dos Espíritos a
confirmação do que esses livros contêm. Se de todos os lados tivessem vindo os Espíritos
contradizê-la, já de há muito haveriam aquelas obras experimentado a sorte de todas as
concepções fantásticas. Nem mesmo o apoio da imprensa as salvaria do naufrágio, ao passo
que, privadas como se viram desse apoio, não deixaram elas de abrir caminho e de avançar
celeremente. E que tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade não só compensou, como
também sobrepujou o malquerer dos homens. Assim sucederá a todas as idéias que,
emanando quer dos Espíritos, quer dos homens, não possam suportar a prova desse confronto,
cuja força a ninguém é lícito contestar.
Suponhamos praza a alguns Espíritos ditar, sob qualquer título, um livro em sentido
contrário; suponhamos mesmo que, com intenção hostil, objetivando desacreditar a doutrina,
a malevolência suscitasse comunicações apócrifas; que influência poderiam exercer tais
escritos, desde que de todos os lados os desmentissem os Espíritos? E com a adesão destes
que se deve garantir aquele que queira lançar, em seu nome, um sistema qualquer. Do sistema
de um só ao de todos, medeia a distancia que vai da unidade ao infinito. Que poderão
conseguir os argumentos dos detratores, sobre a opinião das massas, quando milhões de vozes
amigas, provindas do Espaço, se façam ouvir em todos os recantos do Universo e no seio das
famílias, a infirmá-los? A esse respeito já não foi a teoria confirmada pela experiência? Que é
feito das inúmeras publicações que traziam a pretensão de arrasar o Espiritismo? Qual a que,
sequer, lhe retardou a marcha? Até agora, não se considera a questão desse ponto de vista,
sem contestação um dos mais graves. Cada um contou consigo, sem contar com os Espíritos.
34
INTRODUÇÃO
O princípio da concordância é também uma garantia contra as alterações que poderiam
sujeitar o Espiritismo às seitas que se propusessem apoderar-se dele em proveito próprio e
acomodá-lo a vontade. Quem quer que tentasse desviá-lo do seu providencial objetivo,
malsucedido se veria, pela razão muito simples de que os Espíritos, em virtude da
universalidade de seus ensinos, farão cair por terra qualquer modificação que se divorcie da
verdade.
De tudo isso ressalta uma verdade capital: a de que aquele que quisesse opor-se à
corrente de idéias estabelecida e sancionada poderia, é certo, causar uma pequena perturbação
local e momentânea; nunca, porém, dominar o conjunto, mesmo no presente, nem, ainda
menos, no futuro.
Também ressalta que as instruções dadas pelos Espíritos sobre os pontos ainda não
elucidados da Doutrina não constituirão lei, enquanto essas instruções permanecerem
insuladas; que elas não devem, por conseguinte, ser aceitas senão sob todas as reservas e a
título de esclarecimento.
Daí a necessidade da maior prudência em dar-lhes publicidade; e, caso se julgue
conveniente publicá-las, importa não as apresentar senão como opiniões individuais, mais ou
menos prováveis, porém, carecendo sempre de confirmação. Essa confirmação é que se
precisa aguardar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, a menos se queira
ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Com extrema sabedoria procedem os Espíritos superiores em suas revelações. Não
atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência se
mostra apta a compreender verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se
revelam propicias à emissão de uma idéia nova. Por isso é que logo de principio não disseram
tudo, e tudo ainda hoje não disseram, jamais cedendo à impaciência dos muito afoitos, que
querem os frutos antes de estarem maduros. Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao
tempo que a Providência assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos
35
INTRODUÇÃO
verdadeiramente sérios negariam o seu concurso. Os Espíritos levianos, pouco se
preocupando com a verdade, a tudo respondem; daí vem que, sobre todas as questões
prematuras, há sempre respostas contraditórias.
Os princípios acima não resultam de uma teoria pessoal: são conseqüência forçada das
condições em que os Espíritos se manifestam. E evidente que, se um Espírito diz uma coisa
de um lado, enquanto milhões de outros dizem o contrário algures, a presunção de verdade
não pode estar com aquele que é o único ou quase o único de tal parecer. Ora, pretender
alguém ter razão contra todos seria tão ilógico da parte dos Espíritos, quanto da parte dos
homens. Os Espíritos verdadeiramente ponderados, se não se sentem suficientemente
esclarecidos sobre uma questão, nunca a resolvem de modo absoluto; declaram que apenas a
tratam do seu ponto de vista e aconselham que se aguarde a confirmação.
Por grande, bela e justa que seja uma idéia, impossível é que desde o primeiro momento
congregue todas as opiniões. Os conflitos que daí decorrem são conseqüência inevitável do
movimento que se opera; eles são mesmo necessários para maior realce da verdade e convém
se produzam desde logo, para que as idéias falsas prontamente sejam postas de lado. Os
espíritas que a esse respeito alimentassem qualquer temor podem ficar perfeitamente
tranqüilos: todas as pretensões insuladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do
enorme e poderoso critério da concordância universal.
Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos
Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia
espírita; tampouco será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja: será a
universalidade dos Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem e eus. Esse o
caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a sua
lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por fundamento a cabeça frágil de
um só.
36
INTRODUÇÃO
Diante de tão poderoso areópago, onde não se conhecem corrilhos, nem rivalidades
ciosas, nem seitas, nem nações, é que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições,
todas as pretensões à supremacia individual; é que nos quebraríamos nós mesmos, se
quiséssemos substituir os seus decretos soberanos pelas nossas próprias idéias. Só Ele
decidirá todas as questões litigiosas, imporá silêncio às dissidências e dará razão a quem a
tenha. Diante desse imponente acordo de todas as vozes do Céu, que pode a opinião de um
homem ou de um Espírito? menos do que a gota d’água que se perde no oceano, menos do
que a voz da criança que a tempestade abafa.
A opinião universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em última instância.
Formam-na todas as opiniões individuais. Se uma destas é verdadeira, apenas tem na balança
o seu peso relativo. Se é falsa, não pode prevalecer sobre todas as demais. Nesse imenso
concurso, as individualidades se apagam, o que constitui novo insucesso para o orgulho
humano.
Já se desenha o harmonioso conjunto. Este século não passará sem que ele resplandeça
em todo o seu brilho, de modo a dissipar todas as incertezas, porquanto daqui até lá potentes
vozes terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para congregar os homens sob a mesma
bandeira, uma vez que o campo se ache suficientemente lavrado. Enquanto isso se não dá,
aquele que flutue entre dois sistemas opostos pode observar em que sentido se forma a
opinião geral; essa será a indicação certa do sentido em que se pronuncia a maioria dos
Espíritos, nos diversos pontos em que se comunicam, e um sinal não menos certo de qual dos
dois sistemas prevalecerá.
III - NOTÍCIAS HISTÓRICAS
Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz
conhecer o valor de muitas palavras neles freqüentemente empregadas e que caracterizam o
estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo
sentido, essas
37
INTRODUÇÃO
palavras foram com freqüência mal-interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A
inteligência da significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas
que, à primeira vista, parecem singulares.
Escribas. - Nome dado, a princípio, aos secretários dos reis de Judá e a certos
intendentes dos exércitos judeus. Mais tarde, foi aplicado especialmente aos doutores que
ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Faziam causa comum com os
fariseus, de cujos princípios partilhavam, bem como da antipatia que aqueles votavam aos
inovadores. Daí o envolvê-los Jesus na reprovação que lançava aos fariseus.
Essênios ou esseus. - Também seita judia fundada cerca do ano 150 antes de Jesus-
Cristo, ao tempo dos macabeus, e cujos membros, habitando uma especie de mosteiros,
formavam entre si uma como associação moral e religiosa. Distinguiam-se pelos costumes
brandos e por austeras virtudes, ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da
alma e acreditavam na ressurreição. Viviam em celibato, condenavam a escravidão e a guerra,
punham em comunhão os seus bens e se entregavam à agricultura. Contrários aos saduceus
sensuais, que negavam a imortalidade; aos fariseus de rígidas práticas exteriores e de virtudes
apenas aparentes, nunca os essênios tomaram parte nas querelas que tornaram antagonistas
aquelas duas outras seitas. Pelo gênero de vida que levavam, assemelhavam-se muito aos
primeiros cristãos, e os princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a
supor que Jesus, antes de dar começo à sua missão pública, lhes pertencera à comunidade. E
certo que ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se lhe houvesse filiado, sendo, pois,
hipotético tudo quanto a esse respeito se escreveu. (1)
______________
(1) A morte de Jesus, supostamente escrita por um essênio, é obra inteiramente apócrifa, cujo único fim foi
servir de apoio a uma opinião. Ela traz em si mesma a prova de sua origem moderna.
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INTRODUÇÃO
Fariseus (do hebreu parush, divisão, separação). - A tradição constituía parte importante
da teologia dos judeus. Consistia numa compilação das interpretações sucessivamente dadas
ao sentido das Escrituras e tomadas artigos de dogma. Constituía, entre os doutores, assunto
de discussões intermináveis, as mais das vezes sobre simples questões de palavras ou de
formas, no gênero das disputas teológicas e das sutilezas da escolástica da Idade Média. Daí
nasceram diferentes seitas, cada uma das quais pretendia ter o monopólio da verdade,
detestando-se umas às outras, como sói acontecer.
Entre essas seitas, a mais influente era a dos fariseus, que teve por chefe Hillel (2),
doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, onde se ensinava que só
se devia depositar fé nas Escrituras. Sua origem remonta a 180 ou 200 anos antes de Jesus-
Cristo. Os fariseus, em diversas épocas, foram perseguidos, especialmente sob Hircano -
soberano pontífice e rei dos judeus -, Aristóbulo e Alexandre, rei da Síria. Este último,
porém, lhes deferiu honras e restituiu os bens, de sorte que eles readquiriram o antigo poderio
e o conservaram até à ruína de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, época em que se lhes
apagou o nome, em conseqüência da dispersão dos judeus.
Tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores das práticas
exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo ardente de proselitismo, inimigos dos
inovadores, afetavam grande severidade de princípios; mas, sob as aparências de meticulosa
devoção, ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de
dominação. Tinham a religião mais como meio de chegarem a seus fins, do que como objeto
de fé sincera. Da virtude nada possuíam, além das exterioridade e da ostentação; entretanto,
por umas e
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(2) Não confundir esse Hillel que fundou a seita dos fariseus com o seu homônimo que viveu duzentos
anos mais tarde e estabeleceu os princípios religiosos e sociais de um sistema todo de tolerância e amor,
sistema hoje conhecido por Hilelismo. - A Editora da FEB, 1947.
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INTRODUÇÃO
outras, exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas.
Daí o serem muito poderosos em Jerusalém.
Acreditavam, ou, pelo menos, fingiam acreditar na Providência, na imortalidade da alma,
na eternidade das penas e na ressurreição dos mortos. (Cap. IV, nº. 4.) Jesus, que prezava,
sobretudo, a simplicidade e as qualidades da alma, que, na lei, preferia o espírito, que vivifica,
a' letra, que mata, se aplicou, durante toda a sua missão, a lhes desmascarar a hipocrisia, pelo
que tinha neles encarniçados inimigos. Essa a razão por que se ligaram aos príncipes dos
sacerdotes para amotinar contra ele o povo e eliminá-lo.
Nazarenos. - Nome dado, na antiga lei, aos judeus que faziam voto, ou perpétuo ou
temporário, de guardar perfeita pureza. Eles se comprometiam a observar a castidade, a
abster-se de bebidas alcoólicas e a conservar a cabeleira. Sansão, Samuel e João Batista eram
nazarenos.
Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por alusão a Jesus de
Nazaré.
Também foi essa a denominação de uma seita herética dos primeiros séculos da era
cristã, a qual, do mesmo modo que os ebionitas, de quem adotava certos princípios, misturava
as práticas do moisaísmo com os dogmas cristãos, seita essa que desapareceu no século
quarto.
Portageiros. - Eram os arrecadadores de baixa categoria, incumbidos principalmente da
cobrança dos direitos de entrada nas cidades. Suas funções correspondiam mais ou menos à
dos empregados de alfândega e recebedores dos direitos de barreira. Compartilhavam da
repulsa que pesava sobre os publicanos em geral. Essa a razão por que, no Evangelho, se
depara freqüentemente com a palavra publicano ao lado da expressão gente de má vida. Tal
qualificação não implicava a de debochados ou vagabundos. Era um termo de desprezo,
sinônimo de gente de má companhia, gente indigna de conviver com pessoas distintas.
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INTRODUÇÃO
Publicanos. - Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavalheiros arrendatários das
taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em
Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e
arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem nalgumas legiões.
Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que
muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros
escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os
dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido
pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se
por vezes: “Ávido como um publicano, rico como um publicano", com referência a riquezas
de mau quilate.
De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram
e o que mais irritação causou entre eles. Dai nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso
uma questão religiosa, por ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido
poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por principio o não
pagamento do imposto, Os judeus, pois, abominavam a este e, como consequência, a todos os
que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas
as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em
virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham
relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque
consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.
Saduceus. - Seita judia, que se formou por volta do ano 248 antes de Jesus-Cristo e cujo
nome lhe veio do de Sadoc, seu fundador. Não criam na imortalidade, nem na ressurreição,
nem nos anjos bons e maus.
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INTRODUÇÃO
Entretanto, criam em Deus; nada, porém, esperando após a morte, só o serviam tendo em
vista recompensas temporais, ao que, segundo eles, se limitava a providência divina. Assim
pensando, tinham a satisfação dos sentidos tísicos por objetivo essencial da vida. Quanto às
Escrituras, atinham-se ao texto da lei antiga. Não admitiam a tradição, nem interpretações
quaisquer. Colocavam as boas obras e a observância pura e simples da Lei acima das práticas
exteriores do culto. Eram, como se vê, os materialistas, os deístas e os sensualistas da época.
Seita pouco numerosa, mas que contava em seu seio importantes personagens e se tornou um
partido polftico oposto constantemente aos fariseus.
Samaritanos. - Após o cisma das dez tribos, Samaria se constituiu a capital do reino
dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, tomou-se, sob os romanos, a
cabeça da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado o Grande, a
embelezou de suntuosos monumentos e, para lisonjear Augusto, lhe deu o nome de Augusta,
em grego Sebaste.
Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão
profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam
todas as relações recíprocas. Aqueles, para tornarem maior a cisão e não terem de vir a
Jerusalém pela celebração das festas religiosas, construfram para si um templo particular e
adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e
rejeitavam todos os outros livros que a esse foram posteriormente anexados. Seus livros
sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta antigüidade. Para os judeus
ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. Ó
antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento único a divergência das opiniões
religiosas; se bem fosse a mesma a origem das crenças de uma e outra. Eram os protestantes
desse tempo.
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INTRODUÇÃO
Ainda hoje se encontram samaritanos em algumas regiões do Levante, particularmente
em Nablus e em Jafa. Observam a lei de Moisés com mais rigor que os outros judeus e só
entre si contraem alianças.
Sinagoga (do grego synagogê, assembléia, congregação). - Um único templo havia na
Judéia, o de Salomão, em Jerusalém, onde se celebravam as grandes cerimônias do culto. Os
judeus, todos os anos, lá iam em peregrinação para as festas principais, como as da Páscoa, da
Dedicação e dos Tabernáculos. Por ocasião dessas festas é que Jesus também costumava ir lá.
As outras cidades não possuíam templos, mas, apenas, sinagogas: edifícios onde os judeus se
reuniam aos sábados, para fazer preces públicas, sob a chefia dos anciães, dos escribas, ou
doutores da Lei. Nelas também se realizavam leituras dos livros sagrados, seguidas de
explicações e comentários, atividades das quais qualquer pessoa podia participar. Por isso é
que Jesus, sem ser sacerdote, ensinava aos sábados nas sinagogas.
Desde a ruína de Jerusalém e a dispersão dos judeus, as sinagogas, nas cidades por eles
habitadas, servem-lhes de templos para a celebração do culto.
Terapeutas (do grego therapeutai, formado de therapeuein, servir, cuidar, isto é:
servidores de Deus, ou curadores). - Eram sectários judeus contemporâneos do Cristo,
estabelecidos principalmente em Alexandria, no Egito. Tinham muita relação com os
essênios, cujos princípios adotavam, aplicando-se, como esses últimos, à prática de todas as
virtudes. Eram de extrema frugalidade na alimentação. Também celibatários, votados à
contemplação e vivendo vida solitária, constituíam uma verdadeira ordem religiosa. Fílon,
filósofo judeu platônico, de Alexandria, foi o primeiro a falar dos terapeutas, considerando-os
uma seita do judaísmo. Eusébio, S. Jerônimo e outros Pais da Igreja pensam que eles eram
cristãos. Fossem tais, ou fossem judeus, o que é evidente é que, do mesmo modo que os
essênios, eles representam o traço de união entre o Judaísmo e o Cristianismo.

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