sexta-feira, 2 de maio de 2008

INTRODUÇÃO - EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO
COM
A EXPLICAÇÃO DAS MÁXIMAS MORAIS DO CRISTO EM
CONCORDÂNCIA COM O ESPIRITISMO E SUAS APLICAÇÕES
ÀS DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA
POR
ALLAN KARDEC
Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a
frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
DEPARTAMENTO EDITORIAL
Rua Souza Valente, 17
20941-040 - Rio - RJ - Brasil
ISBN - 85-7328-046-8
112ª edição
Do 2.706º ao 2.755º milheiro
Título do original francês:
L'Évangile selon le Spiritisme
(Paris, abril- 1864)
Tradução de GUILLON RIBEIRO
3a. edição francesa
revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866
Capa de CECCONI
B.N. 6.832
007-AA; 000.05-O; 5/1996
Copyright 1944 by
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
(Casa-Máter do Espiritismo)
Av. L-2 Norte - Q. 603- Conjunto F
70830-030 - Brasília - DF - Brasil
Composição, fotolitos e impressão offset das
Oficinas do Departamento Gráfico da FEB
Rua Souza Valente, 17
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Pedidos de livros à FEB - Departamento Editorial, via Correio ou, em grandes
encomendas, via rodoviário: por carta, telefone (021) 589-6020, ou FAX (021) 589-6838.
7
ÍNDICE
Índice de referências bíblicas 15
Prefácio 23
Introdução 25
I - Objetivo desta obra. II - Autoridade da Doutrina Espírita. Controle universal do ensino dos
Espíritos. III - Notícias históricas. IV - Sócrates e Platão, precursores da idéia cristã e do Espiritismo.
CAPÍTULO I - NÃO VIM DESTRUIR A LEI 53
As três revelações: Moisés, Cristo, Espiritismo: 1 a 7. - Aliança da Ciência e da Religião: 8. -
Instruções dos Espíritos: A nova era: 9 a 11.
CAPÍTULO II - MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO 63
A vida futura: 1 a 3. - A realeza de Jesus: 4. - O ponto de vista: 5 a 7. - Instruções dos
Espíritos: Uma realeza terrestre: 8.
CAPÍTULO III - HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI 71
Diferentes estados da alma na erraticidade: 1 e 2. - Diferentes categorias de mundos
habitados: 3 a 5. - Destinação
8
ÍNDICE
da Terra. Causas das misérias humanas: 6 e 7. - Instruções dos Espíritos: Mundos inferiores e
mundos superiores: 8 a 12. - Mundos de expiações e de provas: 13 a 15. - Mundos regeneradores: 16
a 18. - Progressão dos mundos: 19.
CAPÍTULO IV - NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO
NASCER DE NOVO
83
Ressurreição e reencarnação: 1 a 17. - A reencarnação fortalece os laços de família, ao passo
que a unicidade da existência os rompe: 18 a 23. - Instruções dos Espíritos: Limites da encarnação:
24. - Necessidade da encarnação: 25 e 26.
CAPÍTULO V - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS 97
Justiça das aflições: 1 a 3. - Causas atuais das aflições: 4 e 5. - Causas anteriores das aflições:
6 a 10. - Esquecimento do passado: 11. - Motivos de resignação: 12 e 13. - O suicídio e a loucura: 14
a 17. - Instruções dos Espíritos: Bem e mal sofrer: 18. - O mal e o remédio: 19. - A felicidade não é
deste mundo: 20. - Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras: 21. - Se fosse um homem de bem,
teria morrido: 22. - Os tormentos voluntários: 23. - A desgraça real: 24. - A melancolia: 25. - Provas
voluntárias. O verdadeiro cilício: 26. - Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?: 27. - Será lícito
abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?: 28. - Sacrifício da própria vida: 29 e
30. - Proveito dos sofrimentos para outrem: 31.
CAPÍTULO VI - O CRISTO CONSOLADOR 127
O jugo leve: 1 e 2. - Consolador prometido: 3 e 4. - Instruções dos Espíritos: Advento do
Espírito de Verdade: 5 a 8.
9
ÍNDICE
CAPÍTULO VII - BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO 133
O que se deve entender por pobres de espírito: 1 e 2. - Aquele que se eleva será rebaixado: 3
a 6. - Mistérios ocultos aos doutos e aos prudentes: 7 a 10. - Instruções dos Espíritos: O orgulho e a
humildade: 11 e 12. - Missão do homem inteligente na Terra: 13.
CAPÍTULO VIII - BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM PURO O CORAÇÃO 147
Simplicidade e pureza de coração: 1 a 4. - Pecado por pensamentos. Adultério: 5 a 7. -
Verdadeira pureza. Mãos não lavadas: 8 a 10. - Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo,
cortai-a: 11 a 17. - Instruções dos Espíritos: Deixai que venham a mim as criancinhas: 18 e 19. -
Bem-aventurados os que têm fechado os olhos: 20 e 21.
CAPÍTULO IX - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS 161
Injúrias e violências: 1 a 5. - Instruções dos Espíritos: A afabilidade e a doçura: 6. - A
paciência: 7. - Obediência e resignação: 8. - A cólera: 9 e 10.
CAPÍTULO X - BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS 169
Perdoai, para que Deus vos perdoe: 1 a 4. - Reconciliação com os adversários: 5 e 6. - O
sacrifício mais agradável a Deus: 7 e 8. - O argueiro e a trave no olho: 9 e 10. - Não julgueis, para não
serdes julgados. Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado: 11 a 13. - Instruções dos
Espíritos: Perdão das ofensas: 14 e 15. - A indulgência: 16 a 18. - É permitido repreender os outros,
notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?: 19 a 21.
10
ÍNDICE
CAPÍTULO XI - AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO 183
O mandamento maior. Fazermos aos outros o que queiramos que os outros nos façam.
Parábola dos credores e dos devedores: 1 a 4. - Dai a César o que é de César: 5 a 7. - Instruções dos
Espíritos: A lei de amor: 8 a 10. - O egoísmo: 11 e 12. - A fé e a caridade: 13. - Caridade para com os
criminosos: 14. - Deve-se expor a vida por um malfeitor?: 15.
CAPÍTULO XII - AMAI OS VOSSOS INIMIGOS 197
Retribuir o mal com o bem: 1 a 4. - Os inimigos desencarnados: 5 e 6. - Se alguém vos bater
na face direita, apresentai-lhe também a outra: 7 e 8. - Instruções dos Espíritos: A vingança: 9. - O
ódio: 10. - O duelo: 11 a 16.
CAPÍTULO XIII - NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ A
VOSSA MÃO DIREITA
211
Fazer o bem sem ostentação: 1 a 3. - Os infortúnios ocultos: 4. - O óbolo da viúva: 5 e 6. -
Convidar os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição: 7 e 8. - Instruções dos Espíritos: A
caridade material e a caridade moral: 9 e 10. - A beneficência: 11 a 16. - A piedade: 17. Os órfãos:
18. - Benefícios pagos com a ingratidão: 19. - Beneficência exclusiva: 20.
CAPÍTULO XIV - HONRAI A VOSSO PAI E A VOSSA MÃE 233
Piedade filial: 1 a 4. - Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?: 5 a 7. - A parentela
corporal e a parentela espiritual: 8. - Instruções dos Espíritos: A ingratidão dos filhos e os laços de
família: 9.
CAPÍTULO XV - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO 245
O de que precisa o Espírito para ser salvo. Parábola do bom samaritano: 1 a 3. - O
mandamento maior: 4 e
11
ÍNDICE
5. - Necessidade da caridade, segundo S.Paulo: 6 e 7. - Fora da Igreja não há salvação. Fora da
verdade não há salvação: 8 e 9. - Instruções dos Espíritos: Fora da caridade não há salvação: 10.
CAPÍTULO XVI - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON 253
Salvação dos ricos: 1 e 2. - Preservar-se da avareza: 3. - Jesus em casa de Zaqueu: 4. -
Parábola do mau rico 5. - Parábola dos talentos: 6. - Utilidade providencial da riqueza. Provas da
riqueza e da miséria: 7. - Desigualdade das riquezas: 8. - Instruções dos Espíritos: A verdadeira
propriedade: 9 e 10. - Emprego da riqueza: 11 a 13. - Desprendimento dos bens terrenos: 14. -
Transmissão da riqueza: 15.
CAPÍTULO XVII - SEDE PERFEITOS 271
Caracteres da perfeição: 1 e 2. - O homem de bem: 3. - Os bons espíritas: 4. - Parábola do
semeador: 5 e 6. - Instruções dos Espíritos: O dever: 7. - A virtude: 8. - Os superiores e os inferiores:
9. - O homem no mundo: 10. - Cuidar do corpo e do espírito: 11.
CAPÍTULO XVIII - MUITOS OS CHAMADOS, POUCOS OS ESCOLHIDOS 287
Parábola do festim de bodas: 1 e 2. - A porta estreita: 3 a 5. - Nem todos os que dizem:
Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus: 6 a 9. - Muito se pedirá àquele que muito recebeu: 10 a
12. - Instruções dos Espíritos: Dar-se-á àquele que tem: 13 a 15. - Pelas suas obras é que se
reconhece o cristão: 16.
CAPÍTULO XIX - A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS 299
Poder da fé: 1 a 5. - A fé religiosa. Condição da fé inabalável: 6 e 7. - Parábola da figueira
que secou: 8 a 10. - Instruções dos Espíritos: A fé: mãe da esperança e da caridade: 11. - A fé
humana e a divina: 12.
12
ÍNDICE
CAPÍTULO XX - OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA 309
Instruções dos Espíritos: Os últimos serão os primeiros: 1 a 3. - Missão dos espíritas: 4. - Os
obreiros do Senhor: 5.
CAPÍTULO XXI - HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS 317
Conhece-se a árvore pelo fruto: 1 a 3. - Missão dos profetas: 4. Prodígios dos falsos profetas:
5. - Não creais em todos os Espíritos: 6 e 7. - Instruções dos Espíritos: Os falsos profetas: 8. -
Caracteres do verdadeiro profeta: 9. - Os falsos profetas da erraticidade: 10. - Jeremias e os falsos
profetas: 11.
CAPÍTULO XXII - NÃO SEPAREIS O QUE DEUS JUNTOU 329
Indissolubilidade do casamento: 1 a 4. - O divórcio: 5.
CAPÍTULO XXIII - ESTRANHA MORAL 333
Odiar os pais: 1 a 3. - Abandonar pai, mãe e filhos: 4 a 6. - Deixar aos mortos o cuidado de
enterrar seus mortos: 7 e 8. - Não vim trazer a paz, mas, a divisão: 9 a 18.
CAPÍTULO XXIV - NÃO PONHAIS A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE 345
Candeia sob o alqueire. Porque fala Jesus por parábolas: 1 a 7. - Não vades ter com os
gentios: 8 a 10. - Não são os que gozam saúde que precisam de médico: 11 e 12. - Coragem da fé: 13
a 16. - Carregar sua cruz. Quem quiser salvar a vida, perdê-la-á: 17 a 19.
CAPÍTULO XXV - BUSCAI E ACHAREIS 355
Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará: 1 a 5. - Observai os pássaros do céu: 6 a 8. - Não
vos afadigueis pela posse do ouro: 9 a 11.
13
ÍNDICE
CAPÍTULO XXVI - DAI GRATUITAMENTE O QUE GRATUITAMENTE
RECEBESTES
363
Dom de curar: 1 e 2. - Preces pagas: 3 e 4. - Mercadores expulsos do templo: 5 e 6. -
Mediunidade gratuita: 7 a 10.
CAPÍTULO XXVII - PEDI E OBTEREIS 369
Qualidades da prece: 1 a 4. - Eficácia da prece: 5 a 8. - Ação da prece. Transmissão do
pensamento: 9 a 15. - Preces inteligíveis: 16 e 17. - Da prece pelos mortos e pelos Espíritos
sofredores: 18 a 21. - Instruções dos Espíritos: Maneira de orar: 22. - Felicidade que a prece
proporciona: 23.
CAPÍTULO XXVIII - COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS 385
Preâmbulo: 1.
I - PRECES GERAIS 387
Oração dominical: 2 e 3. - Reuniões espíritas: 4 a 7. - Para os médiuns: 8 a 10.
II - PRECES POR AQUELE MESMO QUE ORA 398
Aos anjos guardiães e aos Espíritos protetores: 11 a 14. - Para afastar os maus Espíritos: 15 a
17. - Para pedir a corrigenda de um defeito: 18 e 19. - Para pedir a força de resistir a uma tentação: 20
e 21. - Ação de graças pela vitória alcançada sobre uma tentação: 22 e 23. - Para pedir um conselho:
24 e 25. - Nas aflições da vida: 26 e 27. - Ação de graças por um favor obtido: 28 e 29. - Ato de
submissão e de resignação: 30 a 33. - Num perigo iminente: 34 e 35. - Ação de graças por haver
escapado a um perigo: 36 e 37. - À hora de dormir: 38 e 39. - Prevendo próxima a morte: 40 e 41.
14
ÍNDICE
III - PRECES POR OUTREM 411
Por alguém que esteja em aflição: 42 e 43. - Ação de graças por um benefício concedido a
outrem: 44 e 45. - Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal: 46 e 47. - Ação de graças pelo
bem concedido aos nossos inimigos: 48 e 49. - Pelos inimigos do Espiritismo: 50 a 52. - Por uma
criança que acaba de nascer: 53 a 56. - Por um agonizante: 57 e 58.
IV - PRECES PELOS QUE JÁ NÃO SÃO DA TERRA 419
Por alguém que acaba de morrer: 59 a 61. - Pelas pessoas a quem tivemos afeição: 62 e 63. -
Pelas almas sofredoras que pedem preces: 64 a 66. - Por um inimigo que morreu: 67 e 68. - Por um
criminoso: 69 e 70. - Por um suicida: 71 e 72. - Pelos Espíritos penitentes: 73 e 74. - Pelos Espíritos
endurecidos: 75 e 76.
V - PRECES PELOS DOENTES E PELOS OBSIDIADOS 430
Pelos doentes: 77 a 80. - Pelos obsidiados: 81 a 84.
15
ÍNDICE DE REFERÊNCIAS BÍBLICAS
MATEUS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
3 10 *317 5 38 a 42 201
5 3 133 5 43 a 47 197
5 4 161 5 44 271
5 5 97 5 46 a 48 271
5 6 97 6 1 a 4 211
5 6 414 6 5 a 8 369
5 7 169 6 9 a 13 387
5 8 147 6 14 e 15 169
5 9 161 6 19 a 21 357
5 10 97 6 24 *253
5 10 a 12 414 6 25 a 34 357
5 15 345 7 1 e 2 173
5 17 e 18 53 7 3 a 5 172
5 19 292 7 7 a 11 355
5 20 197 7 12 183
5 21 e 22 161 7 13 e 14 290
5 23 e 24 172 7 15 a 20 317
5 25 e 26 170 7 21 a 23 291
5 27 e 28 149 7 24 a 27 292
5 29 e 30 152 8 1 a 4 211
5 31 e 32 *329 8 21 e 22 *337
____________
(*) Os asteriscos indicam que tais versículos têm relação com o assunto tratado pelo Autor, se
bem que não citados na obra.
16
MATEUS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
9 10 a 12 350 18 21 e 22 169
10 5 a 7 349 18 23 a 35 184
10 8 363 19 3 a 9 329
10 9 a 15 360 19 13 a 15 *147
10 26 *345 19 16 a 24 253
10 28 414 19 18 e 19 233
10 32 e 33 352 19 29 335
10 34 a 36 338 19 30 *309
10 37 333 20 1 a 16 309
10 38 e 39 353 20 20 a 28 135
11 12 a 15 87 21 12 e 13 365
11 25 137 21 18 a 21 *303
11 28 a 30 127 21 21 *299
12 33 *317 21 22 *370
12 46 a 50 236 22 1 a 14 287
13 1 a 9 276 22 15 a 22 185
13 10 a 14 295 22 34 a 40 183
13 10 a 15 345 22 34 a 40 248
13 18 a 23 276 23 11 e 12 *135
14 1 e 2 *83 23 14 363
15 1 a 20 150 23 25 a 28 *150
16 13 a 17 83 23 25 a 28 400
16 24 a 26 *353 24 4 e 5 318
17 10 a 13 84 24 11 a 13 318
17 14 a 20 299 24 23 e 24 318
18 1 a 5 135 25 29 *295
18 6 a 11 152 25 14 a 30 256
18 15 169 25 31 a 46 245
18 20 394 27 11 *63
17
MARCOS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
1 40 a 44 *211 9 42 a 47 *153
2 15 a 17 *350 10 2 a 12 *329
3 20 e 21 236 10 13 e 16 147
3 31 a 35 236 10 17 a 25 253
4 1 a 9 *276 10 19 233
4 10 a 12 *345 10 29 e 30 *335
4 11 *345 10 31 *309
4 13 a 20 *276 10 35 a 45 *135
4 21 e 22 *345 11 12 a 14 303
4 24 *173 11 15 a 18 365
4 24 e 25 295 11 20 23 303
4 25 *345 11 24 370
6 8 a 11 *360 11 25 e 26 369
6 14 a 16 83 12 13 a 17 185
7 1 a 23 *150 12 28 a 31 *183
8 27 a 30 83 12 28 a 31 *248
8 34 a 36 353 12 38 a 40 363
8 38 149 12 41 a 44 215
8 38 *352 13 5 e 6 318
9 11 a 13 84 13 21 e 22 318
9 35 a 37 *135 15 2 *63
18
LUCAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
5 12 a 14 *211 9 23 a 25 353
5 29 a 31 *350 9 26 352
6 20 *133 9 37 a 43 *299
6 20 e 21 97 9 46 a 48 *135
6 22 e 23 353 9 59 e 60 337
6 22 e 23 *414 9 61 e 62 336
6 24 e 25 97 10 21 *137
6 27 e 28 *197 10 25 a 27 *183
6 27 e 28 *271 10 25 a 27 *248
6 29 e 30 *201 10 25 a 37 246
6 31 183 11 2 a 4 *388
6 32 a 36 197 11 9 a 13 *355
6 32 a 36 *271 11 33 *345
6 37 e 38 *173 11 37 a 40 151
6 41 e 42 *173 11 39 *400
6 43 a 45 317 12 4 e 5 *414
6 46 a 49 292 12 8 e 9 *352
8 4 a 8 *276 12 13 a 21 254
8 10 e 18 *345 12 22 a 34 *357
8 11 a 15 *276 12 47 e 48 293
8 16 e 17 345 12 49 a 53 338
8 18 *295 12 58 e 59 *171
8 19 a 21 *236 13 23 a 30 290
9 3 a 5 *360 13 30 *309
9 7 a 9 83 14 1 135
9 18 a 20 *83 14 7 a 11 135
19
LUCAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
14 12 a 15 217 18 9 a 14 370
14 16 a 24 *287 18 15 a 17 *147
14 25 a 27 333 18 18 a 25 254
14 27 *353 18 20 233
14 33 333 18 28 a 30 335
16 13 253 19 1a 10 254
16 17 *53 19 11 a 27 *256
16 18 *329 19 26 *295
16 19 a 31 255 19 45 e 46 *365
17 1 e 2 *152 20 20 a 26 *185
17 3 e 4 *169 20 45 e 47 363
17 6 *299 21 1 a 4 215
17 23 *318 22 24 a 27 *135
17 33 *353 23 3 *63
JOÃO
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
2 13 a 16 *365 14 1 a 3 71
3 1 a 12 84 14 13 *370
7 5 237 14 15 a 17 128
8 3 a 11 174 14 26 128
9 39 a 41 293 18 33 63
12 25 e 26 353 18 36 e 37 63
12 40 *345
20
ATOS E EPÍSTOLAS
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
At. 2 17 e 18 396 I Cor. 14 16 e 17 377
At. 20 29 *317 Efés. 6 2 e 3 *233
At. 28 26 e 27 *345 II Tim. 2 12 *358
Rom. 2 1 *173 I Ped. 3 14 *414
Rom. 13 7 *185 I Ped. 4 8 *249
I Cor. 13 1 a 7 249 I Ped. 4 14 *414
I Cor. 13 13 249 I João 3 22 *370
I Cor.14 11 e 14 377 I João 4 1 320
VELHO TESTAMENTO
Capítulo Versículo Página Capítulo Versículo Página
Êxo. 20 2 a 8 53 Isa. 26 19 88
Êxo. 20 12 233 Jer. 14 14 *327
Êxo. 20 12 a 17 54 Jer. 23 16 a 18 327
Deu. 5 6 a 12 53 Jer. 23 21 327
Deu. 5 16 *233 Jer. 23 25 e 26 327
Deu. 5 16 a 21 54 Jer. 23 33 327
Job 14 10 e 14 *88 Joel 2 28 e 29 396
21
NOTA DA EDITORA
A nossa tradução da obra O Evangelho segundo o Espiritismo foi feita da terceira edição
francesa, ou seja, daquela que foi revista, corrigida e modificada por Allan Kardec (Revue
Spirite, ano de 1865, pág. 356).
Encarregou-se dessa tradução o saudoso presidente da Federação Espírita Brasileira - Dr.
Guillon Ribeiro, engenheiro civil, poliglota e vernaculista.
Ruy Barbosa, em seu discurso pronunciado na sessão de 14 de outubro de 1903 (Anais do
Senado Federal, vol. II, pág., 717), em se referindo ao seu trabalho de revisão do Projeto do
Código Civil, trabalho monumental que resultou na Réplica, e que lhe imortalizou o nome
como filólogo e purista da língua, disse:
“Devo, entretanto, Sr. Presidente, desempenhar-me de um dever de consciência -
registrar e agradecer da tribuna do Senado a colaboração preciosa do Sr. Dr. Guillon
Ribeiro, que me acompanhou nesse trabalho com a maior inteligência, não limitando os
seus serviços a parte material do comum dos revisores, mas, muitas vezes, suprindo até a
desatenções e negligências minhas.”
Como vemos, Guillon Ribeiro recebeu, aos vinte e oito anos de idade, o maior prêmio, o
maior elogio a que poderia aspirar um escritor, e a Federação Espírita Brasileira, vinte anos
depois, consagrou-lhe o nome, aprovando unanimemente as suas impecáveis traduções de
Kardec.
Jornalista emérito, Guillon Ribeiro foi redator do Jornal do Commercio e colaborador dos
maiores jornais da época. Exerceu, durante anos, o cargo de Diretor-Geral da Secretaria do
Senado e foi Diretor da Federação Espírita Brasileira, no decurso de 26 anos consecutivos,
tendo traduzido, ainda, O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese e Obras
Póstumas, todos de Allan Kardec.
22
EXPLICAÇÃO
Como é do domínio público, Kardec, ao imprimir a terceira edição do seu livro - O
Evangelho segundo o Espiritismo -, por ordem dos Espíritos reformou completamente as
edições anteriores, suprimindo inúmeros trechos, acrescentando outros, alterando a redação
de muitos e a numeração de vários parágrafos, tendo, anteriormente, modificado o próprio
título da obra.
A 3ª edição francesa ficou, pois, sendo a definitiva e, por isso mesmo, a Federação
Espírita Brasileira, obediente às instruções que os Espíritos deram a Kardec, e por este
aceitas, fez a presente tradução da referida 3ª edição francesa, sobre a qual Kardec escreveu,
em "Revue Spirite" de novembro de 1865, o seguinte:
Esta edição foi completamente refundida. Além de algumas adições, as principais
modificações consistem numa classificação mais metódica, mais clara e mais cômoda das
matérias, tornando a obra de mais fácil leitura e facilitando igualmente as consultas.
A EDITORA (FEB)
23
PREFÁCIO
Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se
movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da
Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos
cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser
restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e
glorificar os justos.
As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se
lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira,
fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um
extremo a outro do Universo.
Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos
outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor!
Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.
O ESPÍRITO DE VERDADE
_________
NOTA - A instrução acima, transmitida por via mediúnica, resume a um tempo o verdadeiro
caráter do Espiritismo e a finalidade desta obra; por isso foi colocada aqui como prefácio.
24
25
INTRODUÇÃO
I - OBJETIVO DESTA OBRA
Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns
da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja
para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de
controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código
divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se,
estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto
jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se
originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado
sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à
parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo. Para os homens, em particular,
constitui aquele código uma regra de proceder que abrange todas as circunstancias da vida
privada e da vida pública, o principio básico de todas, as relações sociais que se fundam na
mais rigorosa justiça. E, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade
26
INTRODUÇÃO
vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a
que será objeto exclusivo desta obra.
Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a
necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou
firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a
fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as conseqüências. A
razão está, por muito, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o
maior número dos seus leitores, é ininteligível. A forma alegórica e o intencional misticismo
da linguagem fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever, como
lêem as preces, sem as entender, isto é, sem proveito. Passam-lhes despercebidos os preceitos
morais, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então,
apanhar-se-lhes o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais.
É certo que tratados já se hão escrito de moral evangélica; mas, o arranjo em moderno
estilo literário lhe tira a primitiva simplicidade que, ao mesmo tempo, lhe constitui o encanto
e a autenticidade. Outro tanto cabe dizer-se das máximas destacadas e reduzidas à sua mais
simples expressão proverbial. Desde logo, já não passam de aforismos, privados de uma parte
do seu valor e interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias em que foram
enunciadas.
Para obviar a esses inconvenientes, reunimos, nesta obra, os artigos que podem compor,
a bem dizer, um código de moral universal, sem distinção de culto. Nas citações,
conservamos o que é útil ao desenvolvimento da idéia, pondo de lado unicamente o que se
não prende ao assunto. Além disso, respeitamos escrupulosamente a tradução de Sacy, assim
como a divisão em versículos. Em vez, porém, de nos atermos a uma ordem cronológica
impossível e sem vantagem real para o caso, grupamos e classificamos metodicamente as
máximas, segundo as respectivas naturezas, de modo que decorram umas das
27
INTRODUÇÃO
outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos
versículos permite se recorra à classificação vulgar, em sendo oportuno.
Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, apenas teria secundária
utilidade. O essencial era pô-lo ao alcance de todos, mediante a explicação das passagens
obscuras e o desdobramento de todas as conseqüências, tendo em vista a aplicação dos
ensinos a todas as condições da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos bons
Espíritos que nos assistem.
Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral só são
ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que faculte se lhes apreenda
o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo, como já o puderam
reconhecer os que o têm estudado seriamente e como todos, mais tarde, ainda melhor o
reconhecerão. O Espiritismo se nos depara por toda a parte na antigüidade e nas diferentes
épocas da Humanidade. Por toda a parte se lhe descobrem os vestígios: nos escritos, nas
crenças e nos monumentos. Essa a razão por que, ao mesmo tempo que rasga horizontes
novos para o futuro, projeta luz não menos viva sobre os mistérios do passado.
Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruções escolhidas,
dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por diferentes médiuns. Se elas fossem
tiradas de uma fonte única, houveram talvez sofrido uma influência pessoal ou a do meio,
enquanto a diversidade de origens prova que os Espíritos dão indistintamente seus ensinos e
que ninguém a esse respeito goza de qualquer privilégio. (1)
____________
(1) Houvéramos, sem dúvida, podido apresentar, sobre cada assunto, maior número de
comunicações obtidas numa porção de outras cidades e centros, além das que citamos. Tivemos, porém,
de evitar a monotonia das repetições inúteis e limitar a nossa escolha às que, tanto pelo fundo quanto pela
forma, se enquadravam melhor no plano desta obra, reservando para publicações ulteriores as que não
puderam caber aqui.
Quanto aos médiuns, abstivemo-nos de nomeá-los. Na maioria dos casos, não os designamos a pedido
deles próprios e, assim sendo, não convinha
28
INTRODUÇÃO
Esta obra é para uso de todos. Dela podem todos haurir os meios de conformar com a
moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas oferece aplicações que lhes concernem
de modo especial. Graças às relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os
homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a todas as
nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá e se verá incessantemente
compelido a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais. As instruções que
promanam dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens
e convidá-los à prática do Evangelho.
II - AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA
Controle universal do ensino dos Espíritos
Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não ofereceria por penhor
senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora, ninguém, neste mundo, poderia
alimentar fundadamente a pretensão de possuir, com exclusividade, a verdade absoluta. Se os
Espíritos que a revelaram se houvessem manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a
origem, porquanto fora mister acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles o
ensino. Admitida, de sua parte, sinceridade perfeita, quando muito poderia ele convencer as
pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar todo o
mundo.
______________
fazer exceções. Ao demais, os nomes dos médiuns nenhum valor teriam acrescentado à obra dos Espíritos.
Mencioná-los mais não fora, então, do que satisfazer ao amor próprio, coisa a que os médiuns
verdadeiramente sérios nenhuma importância ligam. Compreendem eles, que, por ser meramente passivo
o papel que lhes toca, o valor das comunicações em nada lhes exalça o mérito pessoal; e que seria pueril
envaidecerem-se de um trabalho de inteligência ao qual é apenas mecânico o concurso que prestam.
29
INTRODUÇÃO
Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais
autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um pólo a outro, manifestando-se por
toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhes ouvir a palavra. Um homem pode
ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas
vêem e ouvem a mesma coisa. Constitui isso uma garantia para cada um e para todos. Ao
demais, pode fazer-se que desapareça um homem; mas não se pode fazer que desapareçam as
coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. Ora,
queimassem-se todos os livros e a fonte da doutrina não deixaria de conservar-se inexaurível,
pela razão mesma de não estar na Terra, de surgir em todos os lugares e de poderem todos
dessedentar-se nela. Faltem os homens para difundi-la: haverá sempre os Espíritos, cuja
atuação a todos atinge e aos quais ninguém pode atingir.
São, pois, os próprios Espíritos que fazem a propagação, com o auxílio dos inúmeros
médiuns que, também eles, os Espíritos, vão suscitando de todos os lados. Se tivesse havido
unicamente um intérprete, por mais favorecido que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido.
Qualquer que fosse a classe a que pertencesse, tal intérprete houvera sido objeto das
prevenções de muita gente e nem todas as nações o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos
se comunicam em todos os pontos da Terra, a todos os povos, a todas as seitas, a todos os
partidos, e todos os aceitam. O Espiritismo não tem nacionalidade e não faz parte de nenhum
culto existente; nenhuma classe social o impõe, visto que qualquer pessoa pode receber
instruções de seus parentes e amigos de além-túmulo. Cumpre seja assim, para que ele possa
conduzir todos os homens à fraternidade. Se não se mantivesse em terreno neutro, alimentaria
as dissensões, em vez de apaziguá-las.
Nessa universalidade do ensino dos Espíritos reside a força do Espiritismo e, também, a
causa de sua tão rápida propagação. Enquanto a palavra de um só homem, mesmo com o
concurso da imprensa, levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos, milhares de
vozes se
30
INTRODUÇÃO
fazem ouvir simultaneamente em todos os recantos do planeta, proclamando os mesmos
princípios e transmitindo-os aos mais ignorantes, como aos mais doutos, a fim de que não
haja deserdados. É uma vantagem de que não gozara ainda nenhuma das doutrinas surgidas
até hoje. Se o Espiritismo, portanto, é uma verdade, não teme o malquerer dos homens, nem
as revoluções morais, nem as subversões físicas do globo, porque nada disso pode atingir os
Espíritos.
Não é essa, porém, a única vantagem que lhe decorre da sua excepcional posição. Ela lhe
faculta inatacável garantia contra todos os cismas que pudessem provir, seja da ambição de
alguns, seja das contradições de certos Espíritos. Tais contradições, não há negar, são um
escolho; mas que traz consigo o remédio, ao lado do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença entre as suas capacidades, longe se
acham de estar, individualmente considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é
dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles é proporcional à sua depuração;
que os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos homens; que entre eles, como entre
estes, há presunçosos e sofômanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos, que tomam
por verdades as suas idéias; enfim, que só os Espíritos da categoria mais elevada, os que já
estão completamente desmaterializados, se encontram despidos das idéias e preconceitos
terrenos; mas, também é sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam em tomar
nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas utopias. Daí resulta que, com relação a
tudo o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral, as revelações que cada um
possa receber terão caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem ser
consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito e que imprudente fora aceitá-las e
propagá-las levianamente como verdades absolutas.
O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se
submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta
31
INTRODUÇÃO
contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já
adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como
assinatura. Incompleto, porém, ficará esse exame em muitos casos, por efeito da falta de luzes
de certas pessoas e das tendências de não poucas a tomar as próprias opiniões como juizes
únicos da verdade. Assim sendo, que hão de fazer aqueles que não depositam confiança
absoluta em si mesmos? Buscar o parecer da maioria e tomar por guia a opinião desta. De tal
modo é que se deve proceder em face do que digam os Espíritos, que são os primeiros a nos
fornecer os meios de consegui-lo.
A concordância no que ensinem os Espíritos é, pois, a melhor comprovação. Importa, no
entanto, que ela se dê em determinadas condições. A mais fraca de todas ocorre quando um
médium, a sós, interroga muitos Espíritos acerca de um ponto duvidoso. É evidente que, se
ele estiver sob o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito mistificador, este lhe
pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes. Tampouco garantia alguma suficiente haverá
na conformidade que apresente o que se possa obter por diversos médiuns, num mesmo
centro, porque podem estar todos sob a mesma influência.
Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre
as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns
estranhos uns aos outros e em vários lugares.
Vê-se bem que não se trata aqui das comunicações referentes a interesses secundários,
mas do que respeita aos princípios mesmos da doutrina. Prova a experiência que, quando um
principio novo tem de ser enunciado, isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao
mesmo tempo e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto ao fundo.
Se, portanto, aprouver a um Espírito formular um sistema excêntrico, baseado
unicamente nas suas idéias e com exclusão da verdade, pode ter-se a certeza de que tal
sistema conservar-se-á circunscrito e cairá, diante das instruções dadas de todas as partes,
conforme os múltiplos
32
INTRODUÇÃO
exemplos que já se conhecem. Foi essa unanimidade que pôs por terra todos os sistemas
parciais que surgiram na origem do Espiritismo, quando cada um explicava à sua maneira os
fenômenos, e antes que se conhecessem as leis que regem as relações entre o mundo visível e
o mundo invisível.
Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um principio da doutrina. Não é
porque esteja de acordo com as nossas idéias que o temos por verdadeiro. Não nos
arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: "Crede em
tal coisa, porque somos nós que vo-lo dizemos." A nossa opinião não passa, aos nossos
próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos
considerarmos mais infalível do que qualquer outro. Também não é porque um principio nos
foi ensinado que, para nós, ele exprime a verdade, mas porque recebeu a sanção da
concordância.
Na posição em que nos encontramos, a receber comunicações de perto de mil centros
espiritas sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra, achamo-nos em condições
de observar sobre que principio se estabelece a concordância. Essa observação é que nos tem
guiado até hoje e é a que nos guiará em novos campos que o Espiritismo terá de explorar.
Porque, estudando atentamente as comunicações vindas tanto da França como do estrangeiro,
reconhecemos, pela natureza toda especial das revelações, que ele tende a entrar por um novo
caminho e que lhe chegou o momento de dar um passo para diante. Essas revelações, feitas
muitas vezes com palavras veladas, hão freqüentemente passado despercebidas a muitos dos
que as obtiveram. Outros julgaram-se os únicos a possui-las. Tomadas insuladamente, elas,
para nós, nenhum valor teriam; somente a coincidência lhes imprime gravidade. Depois,
chegado o momento de serem entregues à publicidade, cada um se lembrará de haver obtido
instruções no mesmo sentido. Esse movimento geral, que observamos e estudamos, com a
assistência dos nossos guias espirituais, é que nos auxilia a julgar da oportunidade de
fazermos ou não alguma coisa.
33
INTRODUÇÃO
Essa verificação universal constitui uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e
anulará todas as teorias contraditórias. Aí é que, no porvir, se encontrará o critério da
verdade. O que deu lugar ao êxito da doutrina exposta em O Livro dos Espíritos e em O Livro
dos Médiuns foi que em toda a parte todos receberam diretamente dos Espíritos a
confirmação do que esses livros contêm. Se de todos os lados tivessem vindo os Espíritos
contradizê-la, já de há muito haveriam aquelas obras experimentado a sorte de todas as
concepções fantásticas. Nem mesmo o apoio da imprensa as salvaria do naufrágio, ao passo
que, privadas como se viram desse apoio, não deixaram elas de abrir caminho e de avançar
celeremente. E que tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade não só compensou, como
também sobrepujou o malquerer dos homens. Assim sucederá a todas as idéias que,
emanando quer dos Espíritos, quer dos homens, não possam suportar a prova desse confronto,
cuja força a ninguém é lícito contestar.
Suponhamos praza a alguns Espíritos ditar, sob qualquer título, um livro em sentido
contrário; suponhamos mesmo que, com intenção hostil, objetivando desacreditar a doutrina,
a malevolência suscitasse comunicações apócrifas; que influência poderiam exercer tais
escritos, desde que de todos os lados os desmentissem os Espíritos? E com a adesão destes
que se deve garantir aquele que queira lançar, em seu nome, um sistema qualquer. Do sistema
de um só ao de todos, medeia a distancia que vai da unidade ao infinito. Que poderão
conseguir os argumentos dos detratores, sobre a opinião das massas, quando milhões de vozes
amigas, provindas do Espaço, se façam ouvir em todos os recantos do Universo e no seio das
famílias, a infirmá-los? A esse respeito já não foi a teoria confirmada pela experiência? Que é
feito das inúmeras publicações que traziam a pretensão de arrasar o Espiritismo? Qual a que,
sequer, lhe retardou a marcha? Até agora, não se considera a questão desse ponto de vista,
sem contestação um dos mais graves. Cada um contou consigo, sem contar com os Espíritos.
34
INTRODUÇÃO
O princípio da concordância é também uma garantia contra as alterações que poderiam
sujeitar o Espiritismo às seitas que se propusessem apoderar-se dele em proveito próprio e
acomodá-lo a vontade. Quem quer que tentasse desviá-lo do seu providencial objetivo,
malsucedido se veria, pela razão muito simples de que os Espíritos, em virtude da
universalidade de seus ensinos, farão cair por terra qualquer modificação que se divorcie da
verdade.
De tudo isso ressalta uma verdade capital: a de que aquele que quisesse opor-se à
corrente de idéias estabelecida e sancionada poderia, é certo, causar uma pequena perturbação
local e momentânea; nunca, porém, dominar o conjunto, mesmo no presente, nem, ainda
menos, no futuro.
Também ressalta que as instruções dadas pelos Espíritos sobre os pontos ainda não
elucidados da Doutrina não constituirão lei, enquanto essas instruções permanecerem
insuladas; que elas não devem, por conseguinte, ser aceitas senão sob todas as reservas e a
título de esclarecimento.
Daí a necessidade da maior prudência em dar-lhes publicidade; e, caso se julgue
conveniente publicá-las, importa não as apresentar senão como opiniões individuais, mais ou
menos prováveis, porém, carecendo sempre de confirmação. Essa confirmação é que se
precisa aguardar, antes de apresentar um princípio como verdade absoluta, a menos se queira
ser acusado de leviandade ou de credulidade irrefletida.
Com extrema sabedoria procedem os Espíritos superiores em suas revelações. Não
atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência se
mostra apta a compreender verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se
revelam propicias à emissão de uma idéia nova. Por isso é que logo de principio não disseram
tudo, e tudo ainda hoje não disseram, jamais cedendo à impaciência dos muito afoitos, que
querem os frutos antes de estarem maduros. Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao
tempo que a Providência assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos
35
INTRODUÇÃO
verdadeiramente sérios negariam o seu concurso. Os Espíritos levianos, pouco se
preocupando com a verdade, a tudo respondem; daí vem que, sobre todas as questões
prematuras, há sempre respostas contraditórias.
Os princípios acima não resultam de uma teoria pessoal: são conseqüência forçada das
condições em que os Espíritos se manifestam. E evidente que, se um Espírito diz uma coisa
de um lado, enquanto milhões de outros dizem o contrário algures, a presunção de verdade
não pode estar com aquele que é o único ou quase o único de tal parecer. Ora, pretender
alguém ter razão contra todos seria tão ilógico da parte dos Espíritos, quanto da parte dos
homens. Os Espíritos verdadeiramente ponderados, se não se sentem suficientemente
esclarecidos sobre uma questão, nunca a resolvem de modo absoluto; declaram que apenas a
tratam do seu ponto de vista e aconselham que se aguarde a confirmação.
Por grande, bela e justa que seja uma idéia, impossível é que desde o primeiro momento
congregue todas as opiniões. Os conflitos que daí decorrem são conseqüência inevitável do
movimento que se opera; eles são mesmo necessários para maior realce da verdade e convém
se produzam desde logo, para que as idéias falsas prontamente sejam postas de lado. Os
espíritas que a esse respeito alimentassem qualquer temor podem ficar perfeitamente
tranqüilos: todas as pretensões insuladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do
enorme e poderoso critério da concordância universal.
Não será à opinião de um homem que se aliarão os outros, mas à voz unânime dos
Espíritos; não será um homem, nem nós, nem qualquer outro que fundará a ortodoxia
espírita; tampouco será um Espírito que se venha impor a quem quer que seja: será a
universalidade dos Espíritos que se comunicam em toda a Terra, por ordem e eus. Esse o
caráter essencial da Doutrina Espírita; essa a sua força, a sua autoridade. Quis Deus que a sua
lei assentasse em base inamovível e por isso não lhe deu por fundamento a cabeça frágil de
um só.
36
INTRODUÇÃO
Diante de tão poderoso areópago, onde não se conhecem corrilhos, nem rivalidades
ciosas, nem seitas, nem nações, é que virão quebrar-se todas as oposições, todas as ambições,
todas as pretensões à supremacia individual; é que nos quebraríamos nós mesmos, se
quiséssemos substituir os seus decretos soberanos pelas nossas próprias idéias. Só Ele
decidirá todas as questões litigiosas, imporá silêncio às dissidências e dará razão a quem a
tenha. Diante desse imponente acordo de todas as vozes do Céu, que pode a opinião de um
homem ou de um Espírito? menos do que a gota d’água que se perde no oceano, menos do
que a voz da criança que a tempestade abafa.
A opinião universal, eis o juiz supremo, o que se pronuncia em última instância.
Formam-na todas as opiniões individuais. Se uma destas é verdadeira, apenas tem na balança
o seu peso relativo. Se é falsa, não pode prevalecer sobre todas as demais. Nesse imenso
concurso, as individualidades se apagam, o que constitui novo insucesso para o orgulho
humano.
Já se desenha o harmonioso conjunto. Este século não passará sem que ele resplandeça
em todo o seu brilho, de modo a dissipar todas as incertezas, porquanto daqui até lá potentes
vozes terão recebido a missão de se fazerem ouvir, para congregar os homens sob a mesma
bandeira, uma vez que o campo se ache suficientemente lavrado. Enquanto isso se não dá,
aquele que flutue entre dois sistemas opostos pode observar em que sentido se forma a
opinião geral; essa será a indicação certa do sentido em que se pronuncia a maioria dos
Espíritos, nos diversos pontos em que se comunicam, e um sinal não menos certo de qual dos
dois sistemas prevalecerá.
III - NOTÍCIAS HISTÓRICAS
Para bem se compreenderem algumas passagens dos Evangelhos, necessário se faz
conhecer o valor de muitas palavras neles freqüentemente empregadas e que caracterizam o
estado dos costumes e da sociedade judia naquela época. Já não tendo para nós o mesmo
sentido, essas
37
INTRODUÇÃO
palavras foram com freqüência mal-interpretadas, causando isso uma espécie de incerteza. A
inteligência da significação delas explica, ao demais, o verdadeiro sentido de certas máximas
que, à primeira vista, parecem singulares.
Escribas. - Nome dado, a princípio, aos secretários dos reis de Judá e a certos
intendentes dos exércitos judeus. Mais tarde, foi aplicado especialmente aos doutores que
ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Faziam causa comum com os
fariseus, de cujos princípios partilhavam, bem como da antipatia que aqueles votavam aos
inovadores. Daí o envolvê-los Jesus na reprovação que lançava aos fariseus.
Essênios ou esseus. - Também seita judia fundada cerca do ano 150 antes de Jesus-
Cristo, ao tempo dos macabeus, e cujos membros, habitando uma especie de mosteiros,
formavam entre si uma como associação moral e religiosa. Distinguiam-se pelos costumes
brandos e por austeras virtudes, ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da
alma e acreditavam na ressurreição. Viviam em celibato, condenavam a escravidão e a guerra,
punham em comunhão os seus bens e se entregavam à agricultura. Contrários aos saduceus
sensuais, que negavam a imortalidade; aos fariseus de rígidas práticas exteriores e de virtudes
apenas aparentes, nunca os essênios tomaram parte nas querelas que tornaram antagonistas
aquelas duas outras seitas. Pelo gênero de vida que levavam, assemelhavam-se muito aos
primeiros cristãos, e os princípios da moral que professavam induziram muitas pessoas a
supor que Jesus, antes de dar começo à sua missão pública, lhes pertencera à comunidade. E
certo que ele há de tê-la conhecido, mas nada prova que se lhe houvesse filiado, sendo, pois,
hipotético tudo quanto a esse respeito se escreveu. (1)
______________
(1) A morte de Jesus, supostamente escrita por um essênio, é obra inteiramente apócrifa, cujo único fim foi
servir de apoio a uma opinião. Ela traz em si mesma a prova de sua origem moderna.
38
INTRODUÇÃO
Fariseus (do hebreu parush, divisão, separação). - A tradição constituía parte importante
da teologia dos judeus. Consistia numa compilação das interpretações sucessivamente dadas
ao sentido das Escrituras e tomadas artigos de dogma. Constituía, entre os doutores, assunto
de discussões intermináveis, as mais das vezes sobre simples questões de palavras ou de
formas, no gênero das disputas teológicas e das sutilezas da escolástica da Idade Média. Daí
nasceram diferentes seitas, cada uma das quais pretendia ter o monopólio da verdade,
detestando-se umas às outras, como sói acontecer.
Entre essas seitas, a mais influente era a dos fariseus, que teve por chefe Hillel (2),
doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma escola célebre, onde se ensinava que só
se devia depositar fé nas Escrituras. Sua origem remonta a 180 ou 200 anos antes de Jesus-
Cristo. Os fariseus, em diversas épocas, foram perseguidos, especialmente sob Hircano -
soberano pontífice e rei dos judeus -, Aristóbulo e Alexandre, rei da Síria. Este último,
porém, lhes deferiu honras e restituiu os bens, de sorte que eles readquiriram o antigo poderio
e o conservaram até à ruína de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, época em que se lhes
apagou o nome, em conseqüência da dispersão dos judeus.
Tomavam parte ativa nas controvérsias religiosas. Servis cumpridores das práticas
exteriores do culto e das cerimônias; cheios de um zelo ardente de proselitismo, inimigos dos
inovadores, afetavam grande severidade de princípios; mas, sob as aparências de meticulosa
devoção, ocultavam costumes dissolutos, muito orgulho e, acima de tudo, excessiva ânsia de
dominação. Tinham a religião mais como meio de chegarem a seus fins, do que como objeto
de fé sincera. Da virtude nada possuíam, além das exterioridade e da ostentação; entretanto,
por umas e
____________
(2) Não confundir esse Hillel que fundou a seita dos fariseus com o seu homônimo que viveu duzentos
anos mais tarde e estabeleceu os princípios religiosos e sociais de um sistema todo de tolerância e amor,
sistema hoje conhecido por Hilelismo. - A Editora da FEB, 1947.
39
INTRODUÇÃO
outras, exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas.
Daí o serem muito poderosos em Jerusalém.
Acreditavam, ou, pelo menos, fingiam acreditar na Providência, na imortalidade da alma,
na eternidade das penas e na ressurreição dos mortos. (Cap. IV, nº. 4.) Jesus, que prezava,
sobretudo, a simplicidade e as qualidades da alma, que, na lei, preferia o espírito, que vivifica,
a' letra, que mata, se aplicou, durante toda a sua missão, a lhes desmascarar a hipocrisia, pelo
que tinha neles encarniçados inimigos. Essa a razão por que se ligaram aos príncipes dos
sacerdotes para amotinar contra ele o povo e eliminá-lo.
Nazarenos. - Nome dado, na antiga lei, aos judeus que faziam voto, ou perpétuo ou
temporário, de guardar perfeita pureza. Eles se comprometiam a observar a castidade, a
abster-se de bebidas alcoólicas e a conservar a cabeleira. Sansão, Samuel e João Batista eram
nazarenos.
Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por alusão a Jesus de
Nazaré.
Também foi essa a denominação de uma seita herética dos primeiros séculos da era
cristã, a qual, do mesmo modo que os ebionitas, de quem adotava certos princípios, misturava
as práticas do moisaísmo com os dogmas cristãos, seita essa que desapareceu no século
quarto.
Portageiros. - Eram os arrecadadores de baixa categoria, incumbidos principalmente da
cobrança dos direitos de entrada nas cidades. Suas funções correspondiam mais ou menos à
dos empregados de alfândega e recebedores dos direitos de barreira. Compartilhavam da
repulsa que pesava sobre os publicanos em geral. Essa a razão por que, no Evangelho, se
depara freqüentemente com a palavra publicano ao lado da expressão gente de má vida. Tal
qualificação não implicava a de debochados ou vagabundos. Era um termo de desprezo,
sinônimo de gente de má companhia, gente indigna de conviver com pessoas distintas.
40
INTRODUÇÃO
Publicanos. - Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavalheiros arrendatários das
taxas públicas, incumbidos da cobrança dos impostos e das rendas de toda espécie, quer em
Roma mesma, quer nas outras partes do Império. Eram como os arrendatários gerais e
arrematadores de taxas do antigo regímen na França e que ainda existem nalgumas legiões.
Os riscos a que estavam sujeitos faziam que os olhos se fechassem para as riquezas que
muitas vezes adquiriam e que, da parte de alguns, eram frutos de exações e de lucros
escandalosos. O nome de publicano se estendeu mais tarde a todos os que superintendiam os
dinheiros públicos e aos agentes subalternos. Hoje esse termo se emprega em sentido
pejorativo, para designar os financistas e os agentes pouco escrupulosos de negócios. Diz-se
por vezes: “Ávido como um publicano, rico como um publicano", com referência a riquezas
de mau quilate.
De toda a dominação romana, o imposto foi o que os judeus mais dificilmente aceitaram
e o que mais irritação causou entre eles. Dai nasceram várias revoltas, fazendo-se do caso
uma questão religiosa, por ser considerada contrária à Lei. Constituiu-se, mesmo, um partido
poderoso, a cuja frente se pôs um certo Judá, apelidado o Gaulonita, tendo por principio o não
pagamento do imposto, Os judeus, pois, abominavam a este e, como consequência, a todos os
que eram encarregados de arrecadá-lo, donde a aversão que votavam aos publicanos de todas
as categorias, entre os quais podiam encontrar-se pessoas muito estimáveis, mas que, em
virtude das suas funções, eram desprezadas, assim como os que com elas mantinham
relações, os quais se viam atingidos pela mesma reprovação. Os judeus de destaque
consideravam um comprometimento ter com eles intimidade.
Saduceus. - Seita judia, que se formou por volta do ano 248 antes de Jesus-Cristo e cujo
nome lhe veio do de Sadoc, seu fundador. Não criam na imortalidade, nem na ressurreição,
nem nos anjos bons e maus.
41
INTRODUÇÃO
Entretanto, criam em Deus; nada, porém, esperando após a morte, só o serviam tendo em
vista recompensas temporais, ao que, segundo eles, se limitava a providência divina. Assim
pensando, tinham a satisfação dos sentidos tísicos por objetivo essencial da vida. Quanto às
Escrituras, atinham-se ao texto da lei antiga. Não admitiam a tradição, nem interpretações
quaisquer. Colocavam as boas obras e a observância pura e simples da Lei acima das práticas
exteriores do culto. Eram, como se vê, os materialistas, os deístas e os sensualistas da época.
Seita pouco numerosa, mas que contava em seu seio importantes personagens e se tornou um
partido polftico oposto constantemente aos fariseus.
Samaritanos. - Após o cisma das dez tribos, Samaria se constituiu a capital do reino
dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, tomou-se, sob os romanos, a
cabeça da Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado o Grande, a
embelezou de suntuosos monumentos e, para lisonjear Augusto, lhe deu o nome de Augusta,
em grego Sebaste.
Os samaritanos estiveram quase constantemente em guerra com os reis de Judá. Aversão
profunda, datando da época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam
todas as relações recíprocas. Aqueles, para tornarem maior a cisão e não terem de vir a
Jerusalém pela celebração das festas religiosas, construfram para si um templo particular e
adotaram algumas reformas. Somente admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e
rejeitavam todos os outros livros que a esse foram posteriormente anexados. Seus livros
sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais alta antigüidade. Para os judeus
ortodoxos, eles eram heréticos e, portanto, desprezados, anatematizados e perseguidos. Ó
antagonismo das duas nações tinha, pois, por fundamento único a divergência das opiniões
religiosas; se bem fosse a mesma a origem das crenças de uma e outra. Eram os protestantes
desse tempo.
42
INTRODUÇÃO
Ainda hoje se encontram samaritanos em algumas regiões do Levante, particularmente
em Nablus e em Jafa. Observam a lei de Moisés com mais rigor que os outros judeus e só
entre si contraem alianças.
Sinagoga (do grego synagogê, assembléia, congregação). - Um único templo havia na
Judéia, o de Salomão, em Jerusalém, onde se celebravam as grandes cerimônias do culto. Os
judeus, todos os anos, lá iam em peregrinação para as festas principais, como as da Páscoa, da
Dedicação e dos Tabernáculos. Por ocasião dessas festas é que Jesus também costumava ir lá.
As outras cidades não possuíam templos, mas, apenas, sinagogas: edifícios onde os judeus se
reuniam aos sábados, para fazer preces públicas, sob a chefia dos anciães, dos escribas, ou
doutores da Lei. Nelas também se realizavam leituras dos livros sagrados, seguidas de
explicações e comentários, atividades das quais qualquer pessoa podia participar. Por isso é
que Jesus, sem ser sacerdote, ensinava aos sábados nas sinagogas.
Desde a ruína de Jerusalém e a dispersão dos judeus, as sinagogas, nas cidades por eles
habitadas, servem-lhes de templos para a celebração do culto.
Terapeutas (do grego therapeutai, formado de therapeuein, servir, cuidar, isto é:
servidores de Deus, ou curadores). - Eram sectários judeus contemporâneos do Cristo,
estabelecidos principalmente em Alexandria, no Egito. Tinham muita relação com os
essênios, cujos princípios adotavam, aplicando-se, como esses últimos, à prática de todas as
virtudes. Eram de extrema frugalidade na alimentação. Também celibatários, votados à
contemplação e vivendo vida solitária, constituíam uma verdadeira ordem religiosa. Fílon,
filósofo judeu platônico, de Alexandria, foi o primeiro a falar dos terapeutas, considerando-os
uma seita do judaísmo. Eusébio, S. Jerônimo e outros Pais da Igreja pensam que eles eram
cristãos. Fossem tais, ou fossem judeus, o que é evidente é que, do mesmo modo que os
essênios, eles representam o traço de união entre o Judaísmo e o Cristianismo.

FEDERAÇÃO ESPIRITA BRASILEIRA

Federação Espírita Brasileira (FEB) constitui-se em uma das principais entidades representativas do Espiritismo no Brasil.

Auto denomina-se como a "Casa de Ismael", e a "casa-mater" do espiritismo brasileiro e tem como objetivo difundir a Doutrina Espírita no país além de promover sua prática e estudo.

A difusão da Doutrina é feita principalmente pela publicação de obras espíritas - mais de 39 milhões de livros de 160 autores. A prática é materializada na oferta de serviços assistenciais que visam beneficiar aqueles que buscam conforto espiritual e material. O estudo é promovido atualmente através do programa de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita - ESDE.

Ainda no tocante às atividades de divulgação, a FEB edita a revista Reformador, um dos periódicos mais antigos em circulação no país, produz os programas de rádio Brasil Espírita e de televisão Terceira Revelação, transmitidos para todo o território brasileiro.

Apesar do caráter de divulgação, não constitui em órgão de centralização hierárquico das casas espíritas, já que estas são livres para organizarem-se e desenvolver suas atividades e estudos fora que qualquer hierarquia. As casas espíritas são portanto livres para se filiar se quiserem, sendo o único pré-requisito para se constituir um centro espírita, o estudo das leis que regem a vida espiritual e a comunicação entre os espíritos e os vivos (encarnados). Normalmente essas leis são estudadas através da codificação de Allan Kardec e das inúmeras obras psicografadas no Brasil, em especial pelo médium Francisco Cândido Xavier.

Índice

[esconder]

[editar] Missão

Conforme definido em seus estatutos[1], a FEB se propõe a:

"...promover o estudo, a prática e a difusão do Espiritismo, com base nas obras da Codificação de Allan Kardec e no Evangelho de Jesus; a prática da caridade espiritual, moral e material, dentro dos princípios espíritas; e a união solidária e a unificação do Movimento Espírita, colocando o Espiritismo ao alcance e a serviço de todos."

[editar] História

[editar] Antecedentes

As raízes do órgão federativo nacional remontam à publicação, no Rio de Janeiro, então Capital do Império, a 21 de janeiro de 1883, do periódico "Reformador", por iniciativa e às expensas de Augusto Elias da Silva, fotógrafo português radicado no Brasil, e cuja direção intelectual ficou a cargo do Major Francisco Raimundo Ewerton Quadros. Recorde-se que, naquele mesmo ano, o mesmo Elias da Silva promoveu um encontro fraternal de líderes espíritas, em virtude das divergências que grassavam entre os integrantes das instituições espíritas na Capital, à época - o Grupo dos Humildes, a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, o Centro da União Espírita do Brasil e o Grupo Espírita Fraternidade.

[editar] A fundação

Conjugados esses fatores, em reunião promovida por Elias da Silva, a 1 de janeiro de 1884, fundou-se a Federação Espírita Brasileira, estando presentes, além de Augusto Elias da Silva, Francisco Raimundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Filgueiras, João Francisco da Silveira Pinto, Maria Balbina da Conceição Batista, Matilde Elias da Silva, Luis Móllica, Elvira P. Móllica, José Agostinho Marques Porto, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, Manoel Estêvão de Amorim e Quádrio Léo.

No dia seguinte (2 de janeiro), foi eleita e empossada a sua primeira Diretoria, assim constituída: Major Ewerton Quadros, presidente; Fernandes Filgueiras, vice-presidente; Silveira Pinto, secretário; Elias da Silva, tesoureiro; e Xavier Pinheiro, arquivista. A instituição ficou inicialmente sediada na própria residência de Elias da Silva, o sobrado à rua da Carioca, 120.

[editar] As primeiras décadas

Nos seus anos iniciais, a FEB vivenciou diversas dificuldades quer de ordem administrativo-financeira quer ideológica, no plano interno, e as turbulências políticas e sociais da Capital do país, no plano externo. Como exemplo das primeiras, registrava-se uma cisão no movimento, entre os chamados "laicos" ou "científicos", liderados pelo professor Afonso Angeli Torteroli; e os "místicos", liderados por Bezerra de Menezes. Como exemplo das segundas, após a Abolição da Escravatura (1888) sucedeu-se a Proclamação da República Brasileira (1889) e as comoções vividas pela República da Espada, entre as quais a Segunda Revolta da Armada (1893). Tais circunstâncias resultaram no abandono da FEB por grande parte dos seus membros iniciais, deixando a sobrevivência da instituição a cargo de alguns poucos colaboradores.

Sucedeu a Ewerton Quadros, em 1889, o médico Dr. Adolfo Bezerra de Menezes. À frente da instituição, Bezerra instituiu o estudo sistematizado de O Livro dos Espíritos nas reuniões públicas realizadas no salão da Federação. Sucedido no início de 1895 por Júlio César Leal, que veio a renunciar após sete meses de gestão, Bezerra aceitou ser reconduzido ao cargo, reassumindo a Presidência da Federação a 3 de agosto de 1895, cargo que exerceu até à sua morte em 1900. Durante este mandato, foi inaugurada a livraria da FEB (1897), responsável pela edição, distribuição e divulgação da literatura espírita.

Após uma dezena de mudanças de endereços desde a sua fundação, a sede própria da Federação foi inaugurada a 10 de dezembro de 1911, na antiga rua do Sacramento (atual Av. Passos, 28-30), no Rio de Janeiro, por Leopoldo Cirne. No ano seguinte (1912), a 3 de maio, era inaugurado na FEB o Curso Gratuito de Esperanto.

[editar] As décadas de 1930 e de 1940

Em 1932, a FEB publicou o seu primeiro grande sucesso editorial: o "Parnaso de Além-Túmulo", que alcançou grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública brasileira. O formato da obra não era novo: seguia os moldes de outra obra cujos direitos a instituição já possuía - Do País da Luz (4 vol.) -, coletânea de mensagens (textos, cartas e poemas) majoritariamente de autores renomados da literatura portuguesa, desencarnados, recebidos na primeira década do século XX pelo médium português Fernando de Lacerda. A autoria dos textos no Parnaso, recebidos pela mediunidade psicográfica do então jovem Francisco Cândido Xavier era predominantemente de figuras da literatura brasileira.

Às vésperas da implantação do Estado Novo (Brasil), em 1937, no dia 27 de outubro, as dependências da FEB foram fechadas pela polícia, vindo as suas portas a ser reabertas três dias mais tarde, por determinação do Dr. Macedo Soares, então Ministro da Justiça.

O período seria marcado, ainda, pela abertura, em 1944, do famoso processo movido pela viúva do escritor Humberto de Campos contra a FEB e Francisco Cândido Xavier, visando receber direitos autorais pretendidos sobre as mensagens psicografadas supostamente atribuídas ao seu finado marido. A partir de então, a entidade passaria a se utilizar do pseudônimo "Irmão X".

Após o término da Segunda Guerra Mundial, a FEB traz à luz a primeira edição de O Livro dos Espíritos em Esperanto (1946). Dois anos mais tarde, em 9 de setembro de 1948 a instituição inaugurou o seu Departamento Editorial e Gráfico.

[editar] O Pacto Áureo

O evento que marcou o final da década de 1940 foi a assinatura, a 5 de outubro de 1949, do chamado "Pacto Áureo", considerado o mais importante documento do Espiritismo no país, por significar a unificação do movimento espírita a nível nacional, sob a coordenação da FEB.

Em decorrência da assinatura do documento, instala-se a 2 de janeiro de 1950, no Rio de Janeiro, o Conselho Federativo Nacional (CFN), congregando os representantes das Federações Espíritas Estaduais signatárias. Em função desse esforço, parte para a Região Nordeste do Brasil, a chamada "Caravana da Fraternidade", integrada, entre outros, por Artur Lins de Vasconcelos Lopes, Carlos Jordão da Silva e Leopoldo Machado. Como resultado, ampliou-se o número das federações estaduais adesas.

[editar] De JK aos nossos dias

Finalmente, em 1960, no contexto da transferência da Capital do país do Rio de Janeiro para Brasília, o então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, declarou a FEB como entidade de Utilidade Pública.

Em 1967, a FEB instala-se em Brasília, no Distrito Federal, vindo a sua sede a se transferir para edifício próprio, naquela Capital, em 1984.

[editar] Lista de presidentes

[editar] Curiosidades

A FEB já editou mais de 10 milhões de livros de Allan Kardec. Das obras psicografadas pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier, foram ultrapassados os 15,5 milhões de exemplares. Destes, Nosso Lar (ditado pelo Espírito André Luiz) é o mais lido, tendo superado a marca de 1,5 milhão de exemplares.

[editar] Entidades Federativas Estaduais ligadas à FEB

Em cada estado brasileiro e no Distrito Federal há uma instituição que, de forma autônoma e independente, integra a Federação Espírita Brasileira para atuação mais direta em apoio aos centros espíritas.

São as seguintes:

TEOLOGIA ESPIRITA

A POLÊMICA TEOLOGIA ESPÍRITA

Desde que a Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas – SBEE, de Curitiba, PR., informou haver obtido do Ministério da Educação autorização para implementar o primeiro Curso de Bacharelado em Teologia Espírita no Brasil, uma nova polêmica está criando vulto no movimento espírita do país: existe uma “teologia espírita”? Há também quem se põe em desacordo com a idéia de “cursos superiores” de espiritismo.

A Proposta da SBEE

O curso pleiteado pela SBEE deverá ser ministrado pela Faculdade Dr. Leocádio José Correia, estabelecimento recém criado por aquela sociedade. Segundo informam seus dirigentes “o Curso de Bacharelado em Teologia Espírita objetiva o estudo sistemático, acadêmico, da Doutrina dos Espíritos, dando seqüência ao esforço de quase 50 anos da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas no sentido de reconceituar o Espiritismo no Brasil”. O corpo docente será formado por especialistas, mestres e doutores de diversas áreas. As aulas deverão abranger conhecimentos sobre ética, sociologia, antropologia, transdisciplinaridade, filosofia, formação pedagógica, tecnologia da informação, formação do conhecimento, estudos das religiões e matérias voltadas ao espiritismo. O objetivo, segundo informa a SBEE, é “formar pesquisadores, pessoas com senso crítico e visão científica”.

Em entrevista à revista “Isto É” (20.11.2002), o presidente da SBEE, Maury Rodrigues da Cruz, declarou que a “a idéia do curso é formar não só bacharéis, mas também pesquisadores do espiritismo”, acrescentando: “é preciso dar massa crítica e espírito investigativo à obra de Kardec”.

Maury Cruz, da SBEE, em entrevista à “Isto É”: “A Faculdade quer formar pessoas com senso crítico e visão científica”.

A Opinião da USEERJ

Uma das primeiras manifestações contrárias à idéia veio da União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro, USEERJ, que, em circular, cita o pensamento do espírito Emmanuel, segundo quem “a Teologia, na maior parte das vezes, é o museu do Evangelho”. A entidade ataca a idéia expressa pela SBEE de “reconceituar” o espiritismo, dizendo que a proposta é “temerária e imprudente”, na medida em que a Doutrina Espírita, como “Verdade Eterna advinda da Nova Revelação, não admite novos conceitos senão aqueles que nos chegaram através da Espiritualidade Superior...”. A USEERJ considera que esse tipo de iniciativa “pode levar a uma indesejável desvirtuação dos verdadeiros objetivos da Doutrina Espírita que, como Cristianismo Redivivo (Cristianismo do Cristo) deve se pautar pela mais absoluta pureza da verdade evangélica”.

Intelectuais espíritas mostram preocupação

Para Luiz Signates, Professor de Comunicação Social da Faculdade Federal de Goiânia, o surgimento de cursos de teologia espírita pode representar um mal na medida em que consolida o processo de institucionalização sistêmica do espiritismo. Mesmo assim, declara-se simpático à idéia das faculdades espíritas: “desde que não se afivelem ao policiamento doutrinário em que o movimento espírita brasileiro mergulhou” e que “constituam espaços de discussão aberta e inteligente com os mundos corpóreo e espiritual, utilizando para isso todos os instrumentos da ciência e da filosofia”. Para Signates esses cursos “não devem formar espíritas, teólogos ou teônomos, médicos ou psicólogos, institucionalizando de vez a identidade espirita com base em critérios profissionalizantes” e sim “formar cidadãos do mundo, de qualquer profissão”, para os quais “a idéia espírita seja apenas uma das opções possíveis e a ética espírita seja simplesmente a ética universal da fraternidade”.

Luiz Signates teme pela institucionalização da identidade espírita com base em critérios profissionalizantes.

Já o historiador espírita Mauro Quintella, de Brasília, acha “simplesmente ridículos esses cursos superiores de espiritismo”. Diz que, “historicamente, o espiritismo não se constituiu/desenvolveu dessa forma”. E que “se a coisa pega”, teremos “doutores de espiritismo nos centros, vomitando regras acadêmicas e exigindo genuflexão a seus diplomas”. Isso, diz, “será o fim da pouca brisa de liberdade que ainda bafeja o movimento”.

Para o pensador espírita carioca Márcio Sales Saraiva, o temor é que “por trás da proposta de uma Faculdade de Teologia resulte na fundação da Igreja Espírita, com seus sacerdotes e teólogos diplomados”.

O físico e escritor espírita fluminense Carlos de Brito Imbassahy reporta-se à sua obra “E Deus, Existe?” que teve como fito acabar com o conceito de Teologia Espírita: “Em seu lugar proponho o neologismo Teonomia e justifico minha proposta no livro em questão”. Sugere uma consulta à sua página www.carlosimbassahy.hpg.ig.com.br, onde diz porque é radicalmente contra o conceito de teologia espírita.

Imbassahy propõe o neologismo “teonomia” em vez de teologia espírita.

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Nossa Opinião

UM CRÉDITO DE CONFIANÇA

O debate sobre a implantação de uma Faculdade de Teologia Espírita pode se tornar interessante. Sabe-se que a idéia de uma Universidade Espírita já era defendida por J.Herculano Pires. Mas, sem dúvida, o termo traz uma carga histórico conceitual que pode comprometer a idéia. Nunca é demais lembrar o princípio defendido por Kardec de que para idéias novas, o ideal é criar palavras novas. Ademais, teologia é, semanticamente, “o estudo de Deus”. Um curso, seja em que nível for, de espiritismo é muito mais do que a busca de uma conceituação de divindade. É, fundamentalmente, um estudo do próprio homem, enquanto ser atemporal, imortal e em processo de permanente evolução individual e coletiva.

Os pensadores ouvidos mostram uma preocupação compreensível com o risco da institucionalização e da sectarização. Quem, no Brasil, se dispõe a pensar livremente o espiritismo logo se depara com patrulhamentos de toda a ordem que o faz temer, com inteira razão, pelo desvirtuamento de idéias que, teoricamente, até podem ser boas, como esta, mas que, normalmente, são mal executadas .

O que não parece razoável é a preocupação da USEERJ que comparece ao debate com a surrada idéia de que nada deve ser reconceituado, porque tudo o que temos procede da “Espiritualidade Superior”. A matriz desse pensamento é aquela que, aqui, temos sistematicamente repelido: a que rejeita toda a contribuição humana, intelectual, no processo de avanço do conhecimento espírita. Mais do que a idéia da reconceituação, o que a USEERJ ataca é a idéia da atualização, sempre tão temida pelas instituições religiosas conservadoras.

De nossa parte, pensamos que os espíritas livre-pensadores devem conceder um crédito de confiança à iniciativa da SBEE, na expectativa de que ela se constitua, efetivamente, em avanço no campo do livre desenvolvimento da ciência, da filosofia e da ética espíritas, enquanto contribuição cultural do homem em favor do homem. (A Redação).

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Editorial

TODOS QUEREM A PAZ

- Qual é a causa que leva o homem à guerra?

- Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. (...). (“O Livro dos Espíritos” - questão n° 742).-

Quem acompanhou o esforço norte-americano junto ao Conselho de Segurança da ONU para que este aprovasse sua proposta de guerra contra o Iraque pode, eventualmente, ter encontrado razões que a justificassem. As complexas relações internacionais, no mundo de hoje, envolvendo interesses das mais diversas ordens, estabelecem uma lógica muito peculiar a partir de cujos parâmetros facilmente se chega ao conceito de guerra justa ou de guerra necessária.

Há, entretanto, a lógica da guerra e a lógica da paz. Aqueles que vivem sob os paradigmas desta última nunca encontram justificativa para um conflito bélico. Põem a vida humana acima de qualquer ideologia, de qualquer valor mercantil, crença ou sistema de poder. A posse da paz é uma conquista que, quando obtida, se faz irrenunciável.

Malgrado a guerra, real ou iminente, que tem, sistematicamente, sacudido o mundo, há alguns sinais muito evidentes de que estamos aprendendo a valorizar a paz. É verdade que os Senhores da Guerra ainda detêm o poder sobre o Planeta. Episodicamente, podem, inclusive, convencer enormes parcelas das nações que comandam da conveniência da guerra ou da excelência de sua lógica. Claramente, entretanto, eles perdem influência. Prova disso foram as eloqüentes manifestações ocorridas no dia 15 de fevereiro último, em todo o mundo, contra a iniciativa da guerra. Um detalhe significativo: mesmo naqueles países cujos governantes formalizaram a adesão à guerra, as multidões, aos milhares, foram às ruas e praças dizer “não à guerra”. Pouco importa que sejam ou não ouvidas, mas deixam claro o divórcio entre a lógica de seus governantes e sua própria lógica. Aquela justificando a guerra. Esta colocando a paz como única alternativa viável à Humanidade em seu estágio atual.

São prenúncios de um novo tempo. Tempo antevisto e vivenciado por figuras amoráveis e pacifistas de ímpar verticalidade, como Buda, Jesus de Nazaré, Francisco de Assis, Mahatma Ghandi, Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Francisco Cândido Xavier, e tantos outros cujas idéias pairaram por sobre a brutalidade e a miséria humana para que, através deles, fluísse, límpido, o ideal que, no fundo, todos abrigamos, embora nem sempre tenhamos coragem suficiente para romper com os velhos paradigmas: o ideal da paz.

Na verdade, todos querem a paz. Nem todos, entretanto, e, notadamente, enquanto detentores do poder, conseguem liberar-se facilmente da “natureza animal” que, segundo os espíritos, teima em predominar sobre a “natureza espiritual”, que é a própria e verdadeira natureza humana.

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Notícias

CURSO DE INICIAÇÃO – AINDA É TEMPO

Ainda é tempo de inscrever-se para o próximo Curso de Iniciação ao Espiritismo (CIESP), que o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre vai promover a partir de 20/3, em seis módulos a se desdobrarem às quintas-feiras (20h30min).

O curso será aberto por Maurice Herbert Jones, com o tema “O Que é o Espiritismo”, seguindo-se exposições de Salomão Jacob Benchaya, abordando: O espírito: imortalidade e intercomunicação; Pluralidade das existências e dos mundos habitados; Concepção espírita de Deus e evolução; Práticas espíritas (preces, passes, desobsessão, estudos, pesquisas, ação social, curas, irradiações energéticas, etc) e práticas não espíritas. O encerramento estará a cargo de Maurice Jones com “As conseqüências morais do Espiritismo”.

Inscrições gratuitas no CCEPA.

Maurice Herbert Jones abre e encerra o curso que será desenvolvido por Salomão.

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ABRADE PROGRAMA FÓRUM EM SANTOS

Segundo informa o boletim da ABRADE – Associação Brasileira de Comunicadores Espíritas, Santos-SP é a próxima cidade brasileira a ter o seu Fórum sobre Política de Comunicação Social Espírita. O evento organizado pela ABRADE, será desenvolvido em 12 e 13 de julho do corrente, mobilizando os interessados na área. Outras cidades já estão mapeadas para receber o Fórum. A ABRADE está convidando a quem quiser desenvolver este projeto a fazer contato através do e-mail: abrade@abrade.com.br .

JORNAL “OPINIÃO” ESTÁ NO MUSEU ESPÍRITA

Uma coleção completa do jornal OPINIÃO e dos encartes CEPA-BRASIL e AMÉRICA ESPÍRITA pode ser encontrada, devidamente tombada, encadernada e arquivada, na hemeroteca do ICESP-Instituto de Cultura Espírita de São Paulo (Museu Espírita de S. Paulo), situado à Rua Guaricanga, 357 (Lapa) - CEP 05075-030 - S.Paulo-SP - fones: (11) 3834-6225/4701 - e.mail: icesp@frontier.com.br , HP: www.frontier.com.br/icesp .

O ICESP - antigo Lar da Família Universal - presidido pelo Dr. Paulo de Toledo Machado, mantém, além do Museu Espírita de São Paulo, o Arquivo do Espiritismo de São Paulo, a Biblioteca Espírita "William Crookes", cine/clube, edições ICESP, a Livraria Espírita "Katie King", a Pinacoteca Espírita de São Paulo, a revista trimestral ICESP e o Serviço Espírita de Assistência Social.

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SEGUNDA-FEIRA É DIA DE IR AO CCEPA

Segue com sucesso a iniciativa do CCEPA de realizar, mensalmente, na primeira segunda-feira de cada mês, uma palestra especial aberta ao público, em sua sede na Botafogo, 678 (Bairro Menino Deus, Porto Alegre).

No último dia 3/2, para um auditório de mais de 80 pessoas, Milton Medran Moreira abordou o tema: “Espiritismo – Um Convite à Felicidade”; Dia 3/3, às 20h30 min., o conferencista será o presidente do CCEPA, Rui Paulo Nazário de Oliveira, falando sobre “O Espiritismo e o Mito da Salvação”.

Nas demais segundas-feiras de cada mês, em atividade também aberta ao público, o CCEPA desenvolve atividades com o Grupo de Conversação Espírita, abordando temáticas variadas sob o enfoque do espiritismo.

Rui Paulo Nazário aborda “O Espiritismo e o Mito da Salvação”, dia 3/3, no CCEPA.

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Opinião em Tópicos

Milton R. Medran Moreira

A Polêmica

Um artigo do pensador católico gaúcho Percival Puggina, em Zero Hora do dia 21/01 último, terminou provocando uma avalanche de cartas para a respectiva seção do jornal porto-alegrense. Puggina fez uma dura crítica aos organizadores do Fórum Social Mundial por convidarem líderes cristãos como Leonardo Boff e Frei Betto, de manifesta tendência socialista, sem jamais haverem dirigido semelhante convite ao Dalai Lama, importante personalidade religiosa mundial, expulso do Tibete, sua pátria, pelo governo comunista chinês. O articulista, um liberal católico, inserido no pensamento mais ortodoxo, tanto teológico como político, na sua manifestação terminou, “en passant”, mimoseado Boff e Betto com o epíteto de hereges, o que desagradou inúmeros cristãos que passaram a protestar nas edições seguintes do jornal.

Os Hereges

Após uma enxurrada de críticas ao artigo, com expressões de solidariedade aos frades chamados de hereges, um leitor do jornal publicou manifestação em apoio a Puggina, dizendo que os escritos de Boff são mesmo heréticos, e que a doutrina cristã está fundada na palavra de Deus, não podendo ser confundida com modismos dos chamados teólogos da libertação.

Despertou-me interesse a polêmica porque admiro os dois pensadores cujos livros, artigos, conferências e entrevistas tenho acompanhado há longo tempo. São dois brilhantes humanistas, um (Boff), já formalmente fora da estrutura da Igreja, e outro (Betto), ainda se assinando como “frei”, mas ambos ferrenhos críticos do conservadorismo e do autoritarismo da Santa Sé, embora se dizendo cristãos e católicos. Mesmo assim, não posso deixar de conceder alguma razão a seus críticos.

Dilemas

Acho que os denominados cristãos progressistas, pertencentes a quaisquer das igrejas, enquanto permanecem na Igreja, convivem com dilemas muito difíceis de equacionar. A visão judaico-cristã de mundo é derrotista e retrógrada, não se compatibilizando com o progresso. Por mais que queiramos relativizar os fundamentos básicos da Bíblia, não podemos nos afastar deste dogma, que é terrível, e que é a base da fé judaico-cristã: o homem terráqueo é herdeiro do pecado. Já nasce detentor da culpa que herdou de seus primeiros pais e só pode ser salvo pela intervenção da graça divina, que o vai liberar dessa nódoa original. E que essa graça, trazida pela missão redentora de Deus encarnado, Jesus, a uns alcançará definitivamente e a outros não. Esses fundamentos, desumanos, injustos e discricionários, são comuns e básicos a toda modalidade de fé cristã. Quem não faz disso um princípio inabalável de fé não tem o direito de se dizer cristão, por mais que ame e admire Jesus ou considere-o, como nós, modelo e guia da humanidade.

Herege, sim

Quando se vê uma alma nobre como Leonardo Boff, tão preocupado com os excluídos, com a justiça social, a ecologia, a igualdade, a compaixão, ser chamado de herege, é natural, como ocorreu com os missivistas indignados de Zero Hora, que se proteste: um homem assim é que é verdadeiro cristão, dirão. Mas, Bertrand Russell, numa famosa conferência pronunciada perante a Câmara Municipal de Battersea (Inglaterra), à qual deu o título de “Porque não sou cristão”, tem um argumento irrefutável: se formos qualificar alguém como cristão apenas a partir de sua bondade, dos seus sentimentos de justiça, do seu espírito caritativo, estaremos sendo injustos para com judeus, budistas, xintoístas, etc., que, com as mesmas qualidades (pois nem só entre os cristãos estão as pessoas boas), não quererão e nem devem ser chamados de cristãos. Então, não são as qualidades morais de alguém que o irão identificar como cristão, mas sua crença nos dogmas fundamentais da fé. Quem, por exemplo, não aceita a divindade de Jesus e sua condição de redentor, único Senhor e Salvador, não pode se dizer cristão. Se assim já creu e disso se afastou, é um herege. Adjetivo que não deve ofender ninguém. Eu mesmo, tempos atrás, fui chamado de herege, em artigo escrito por um espírita-cristão, e fiquei muito lisonjeado com isso. voltar

Enfoque

O SALTO DE KIERKEGAARD

Maurice H.Jones *

Um alpinista solitário buscando fugir, durante a noite, de uma tempestade de neve na montanha que escalara, perde o equilíbrio, precipita-se no abismo e é, então, salvo pela corda de segurança que ancorara na rocha gelada. Suspenso pela corda, em completa escuridão, sem condição de retornar e desconhecendo a profundidade do abismo, deixou-se ali ficar, em angustiosa espera, pois sabia que o frio intenso o mataria em poucas horas e que a única alternativa para esta morte lenta seria desvencilhar-se da corda e saltar para uma morte rápida.

Dominado pelo pavor, naquela vigília que parecia não ter fim, ouve uma voz forte que, superando o medonho ruído da nevasca, ressoa autoritária na sua mente determinando: - Salta, salta e te salvarás.

Várias horas depois, quando a luz do dia retornou e a tempestade amainou, uma equipe de resgate encontrou o trágico personagem já sem vida, ainda agarrado à sua corda e com os pés suspensos no ar a somente cinqüenta centímetros do solo firme.

A fé o convidava ao salto salvador mas, naqueles momentos de angústia e solidão, prevaleceram os argumentos da razão. Esta lhe acenava com a possibilidade, remota é verdade, de sobreviver ao frio e ser resgatado.

Para Kierkegaard, a fé é um modo de existir que nos põe em relação com o absurdo.

Este episódio emblemático, cuja origem não recordo, nos coloca diante do problema da fé que, na visão do pensador dinamarquês Soren A. Kierkegaard (1813-1855) é, definitivamente, um modo de existir que nos põe em relação com o absurdo. Para ele o acesso à verdade suprema depende da crença no absurdo, naquilo que Paulo de Tarso chamou de “loucura”. Por isso devemos dizer “creio porque é absurdo“.

A angústia que acompanha a fé estaria ilustrada, no entender de Kierkegaard, no episódio bíblico no qual Deus pede a Abraão o sacrifício de seu único filho Isaac para demonstrar a sua fé, o que, segundo a ética dos homens, é absurdo e desumano. Abraão não hesitou: aceitando o absurdo da exigência divina saltou da razão e da ética para o plano do absoluto, âmbito em que o entendimento é cego. Para este pensador, a fé cristã é superior à ciência porquê indica a certeza mais alta, uma certeza que se refere ao paradoxo, portanto ao inverossímil. A fé representa, assim, um salto no escuro e, sendo a crença inseparável da angústia, para Kierkegaard o temor de Deus é inseparável do tremor.

Os episódios que ilustram esta reflexão podem ser apreciados de duas maneiras. A visão fideista, desprezando a razão e privilegiando a fé no conhecimento das verdades, certamente aprovará a obediência de Abraão e lamentará a desobediência do alpinista. Já uma visão racionalista, livre pensadora e até mesmo o nosso conhecido “senso comum”, considerará perfeitamente razoável a resistência do infeliz alpinista ao comando daquela voz, ao mesmo tempo em que se horrorizará com a absurda e desumana ordem dada a Abraão que, por isso, deveria ignorá-la.

O confronto entre estas duas visões, que representam momentos distintos na história do pensamento humano, é evidente. A visão medieval, teocêntrica, em que a fé é, sobretudo, submissão, obediência, é desafiada, a partir da renascença, pelo racionalismo humanista. O homem, adolescente rebelde, propõe a Deus um novo contrato em que a parceria substitua a obediência cega, pois ele já “não aceita mais crer de olhos fechados pois quer saber de olhos abertos”. Descobre-se, assim, como legítimo filho de Adão que renunciou ao paraíso pela liberdade de escolher, de errar, de crescer.

A partir deste momento, a necessidade de uma síntese se torna crescentemente imperiosa. Para isto, porém, seria necessária uma mudança na forma de ver o fenômeno, adotando um raciocínio dialético em substituição ao lógico.

O Espiritismo surge no momento histórico em que esta síntese se torna possível. O fideismo tinha muito poucos defensores e, por outro lado, era bem menor a paixão pela razão, como único meio de se chegar ao conhecimento da realidade.

O jornalista Luiz Signates em um excelente e fundamentado artigo nos fala da conciliação, no Espiritismo, desses conceitos antagônicos que se conjugam na explicação da realidade, resultando numa fé aberta, dialogal que forma um par dialético inseparável com a razão.

A natureza sintética do Espiritismo, tão bem destacada por Leon Denis, torna-se evidente no conceito de “fé raciocinada” que Kardec incorporou ao pensamento espírita.

A visão dinâmica e livre pensadora oferecida pelo Espiritismo nos convida enfaticamente a superar dialeticamente o conflito entre a postura de submissão alienante do fideismo e a arrogância racionalista, com aquilo que José Herculano Pires chamou de fideismo-crítico, ou seja, a nossa fé raciocinada.

Analisando o aparente paradoxo desta expressão no abra A Revolução da Esperança, o psicanalista Erich Fromm diz que a fé é irracional quando é submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira independentemente de sê-lo ou não. O elemento essencial desta fé é o seu caráter passivo. Já a fé racional refere-se ao conhecimento do real que ainda não nasceu; baseia-se na capacidade de conhecimento e compreensão que penetra a superfície e vê o âmago. A fé racional, continua ele, não é previsão do futuro; é a visão do presente num estado de gravidez; é a certeza sobre a realidade da possibilidade.

Sintetizando o modo pelo qual o Espiritismo aborda o problema da fé, poderíamos dizer, parafraseando Herbert Spencer, que “existe uma alma de razão nas coisas da fé e uma alma de fé nas coisas da razão”.

* Maurice Herbert Jonesmitto@terra.com.br – ex-presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul e, também, do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre do qual é, atualmente, vice-presidente; assessor especial da presidência da